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A triste música “Assum Preto”, de Luiz Gonzaga, traz versos que narram a sina de um pássaro privado de liberdade. A canção reflete uma prática retrógrada na qual o animal além de ter sua autonomia cerceada, também tinha seus olhos mutilados sob a crença que tal ato o faria cantar melhor. Apesar de condenarem as práticas narradas na canção, muitas pessoas têm atitudes similares em seus relacionamentos amorosos. Isso vai além da ignorância: são atos que evoluem das inseguranças e podem culminar na pior das maldades, a exemplo do feminicídio. O fato é que a liberdade do outro assusta as pessoas inseguras. Tal lógica, do mesmo modo que a mutilação dos pássaros, deve ser abandonada.

A liberdade assusta pessoas inseguras

Supõe-se que a maioria dos brasileiros condena os relacionamentos abusivos e suas práticas. Paralelamente, estima-se que 6 em cada 10 mulheres são vítimas de agressões físicas e psicológicas em seus namoros ou casamentos. Por exemplo, muitas delas, assim como um Assum Preto, são privadas de liberdade das formas sutis até as mais ostensivas. Outras, contudo, chegam a ser vitimadas pelo feminicídio. Por trás de práticas tão desumanas não estão apenas a ignorância ou a maldade, como supunha Gonzaga. Na verdade, a insegurança frente a liberdade do outro sempre assustou e desestabilizou as pessoas imaturas ou emocionalmente perturbadas. Consequentemente, a partir disso, surge toda ordem de agressividade e aprisionamento. Isso precisa mudar.

A possessividade no relacionamento deve ser abandonada. Ela é um sinal desequilíbrio emocional e comprometimento da liberdade.
A possessividade no relacionamento deve ser abandonada. Ela é um sinal desequilíbrio emocional e comprometimento da liberdade.

Toda relação deve ser pautada na liberdade

Aqueles que não sabem lidar com a autonomia alheia, especialmente com a liberdade do seu par, evidenciam o quão são despreparados para viver uma relação. Em outras palavras, ninguém com o mínimo de sanidade e segurança emocional sente-se ameaçado com a liberdade do outro. Logo, qualquer atitude diferente disso, deve servir de alerta. Todavia, há quem considere que isso seja apenas uma demonstração de “cuidado“. No entanto, nada justifica a imposição de limites à liberdade do outro. Por isso, independentemente da posição que ocupam na relação abusiva, seja a de vítima ou algoz, a cultura do controle e cerceamento deve ser abandonada. Ou seja, toda relação deve ser uma escolha pautada na liberdade, no bem-estar, na integridade física e emocional.

Ninguém deseja perder um amor

Para que uma relação seja construída e mantida de forma saudável, é imprescindível que os pares sigam os preceitos do respeito, segurança, liberdade e harmonia na convivência. Qualquer desvio destes princípios pode ser um indicador de que muros e gaiolas estão sendo erguidos. Por isso, todos devem estar atentos a estes balizadores de bem-estar e, em casos positivos, buscar mudanças o mais breve possível. Por exemplo, por meio da psicoterapia individual ou da Terapia de Casal, as pessoas podem desenvolver habilidades para lidar melhor com os sentimentos e emoções, bem como adotar comportamentos mais adequados para que a relação evolua de maneira saudável. Afinal, ninguém deseja abrir mão do amor. Para muitos, como na música de Luiz, isso seria como perder a luz dos olhos. Em razão disso, suprimir a liberdade, assim como outros meios agressivos e mutilatórios jamais devem ser alternativas para o propósito manter alguém junto a si. 

Como está a liberdade em seu relacionamento?

Elídio Almeida

Psicólogo em Salvador, formado pela Universidade Federal da Bahia (UFBA) e especializado em Terapia de Casal e Relacionamentos (CRP). Possui também pós-graduação em Psicologia Clínica pela Universidade do Estado da Bahia (UNEB). Dedica-se à prática clínica, oferecendo acompanhamento terapêutico a casais, famílias e atendimento individual para adultos. Além disso, ministra cursos e palestras na área.

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