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Uma vez gravei uma entrevista para a TV, comentando sobre o caso de um crime passional motivado por ciúme, e me recordo da repórter ter iniciado a entrevista perguntando se há como identificar preventivamente esse comportamento. Lembro-me de ter respondido que, na grande maioria das vezes, é possível fazer esse prognóstico e que os comportamentos controladores e ciumentos são exemplos cabais disso. No entanto, mesmo diante de tragédias anunciadas a partir desses comportamentos, lamentavelmente poucas pessoas dão importância ao comportamento ciumento e, por isso, negligenciam seus sinais de perigo ou tendem a empurrar a poeira para debaixo do tapete.

quem é essa aí papai ivete sangalo psicólogo em salvador elídio Almeida

Falando em empurrar a poeira para debaixo do tapete, a duas semanas venho recebendo uma enxurrada de pedidos para comentar sobre a cena de ciúmes protagonizada pela cantora Ivete Sangalo, durante um show, quando teria percebido que seu marido estava de papo com outra mulher.

Muito embora a própria Ivete tenha, dias depois, negado a crise de ciúmes e dito que tudo não passou de “uma brincadeira para divertir os fãs”, as cenas do momento demonstram um alto grau de insegurança e irritação da cantora. Bem, se aquilo foi uma encenação, devo reconhecer que ela se saiu muito melhor no improviso do que quando foi dirigida por excelentes diretores da dramaturgia em suas atuações como atriz profissional. No meu entendimento, com a desastrosa entrevista oficial para justificar as cenas de ciúmes, na qual afirmou que teria sido uma brincadeira, Ivete perdeu uma excelente oportunidade de ser mais humana e assumir seu momento de insegurança afetivo-emocional vivenciado naquele momento. Ao contrário, preferiu dar uma desculpa tremendamente esfarrapada que não convenceu nem seus fãs mais incondicionais. No entanto, este não foi o único caso  de ciúme que circulou na mídia nos últimos dias. Aliás, esse tema tem sido destaque quase que diariamente.

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Esta semana, uma tragédia motivada por ciúmes aconteceu na região metropolitana de Salvador. O crime aconteceu em Camaçarí, no bairro do Salgadinho, onde uma mulher foi encontrada morta e esquartejada. A família acredita que o marido da vítima a matou  por ciúmes e o estopim teria sido o fato da vítima ter criado uma conta numa rede social. “Ela não podia ter Facebook nem Whatsapp porque ele não deixava. Tudo que ela falava e fazia, ele rastreava e descobria”, afirmou uma irmã da vítima a um jornal. Outro fato lamentável de um crime como esse, é pensar que todas essas proibições e outras demonstrações de ciúmes podem ter sido negligenciadas não só pela vítima, mas também pelas testemunhas auditivas e oculares, parentes e amigos, que poderiam ter feito o link entre os comportamentos previamente apresentados e a tragédia final. Quando esse prognóstico é feito no momento adequado, muitos desfechos tristes como este podem ser evitados.

O perigo do Ciúme

Mas o que a tentativa da Ivete esconder ou disfarçar seu ciúme e o crime em motivado por ciúmes têm em comum? Estes episódios têm em comum o fato do ciúme ainda ser tratado em nossa sociedade – e na maioria das relações – de forma inadequada. O que vemos são pessoas que ora negam ser ciumentas e tantas outras que não enxergam que a medida que os comportamentos ciumentos se intensificam, estes se tornam sinalizadores de que coisas mais graves podem acontecer. Ou seja, comportamentos ciumentos são sempre indicadores de perigo e devemos estar sempre alertas.

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No entanto, a grande maioria das pessoas não vê o ciúme dessa forma e outra parcela significativa da população não possui condições financeiras para investir em um tratamento especializado para combater o ciúme. Por incrível que pareça, há ainda aqueles que consideram a Psicoterapia coisa de maluco e continuam, muitas vezes, sofrendo, caladas. Isso chega a ser ainda mais grave quando os envolvidos possuem condições financeiras para investir em tratamentos adequados para combater o ciúme, bem como têm discernimento cognitivo para compreender que o comportamento ciumento é algo ruim e, por isso, deve ser omitido a qualquer custo. O que as pessoas que convivem com ciúmes deve perceber é que as consequências para um relacionamento são sempre devastadoras e têm colocado muitos casais em perigo, não só acerca do término do relacionamento, mas também pela possibilidade de resultar em um crime passional.

Elídio Almeida

Psicólogo em Salvador, formado pela Universidade Federal da Bahia (UFBA) e especializado em Terapia de Casal e Relacionamentos (CRP). Possui também pós-graduação em Psicologia Clínica pela Universidade do Estado da Bahia (UNEB). Dedica-se à prática clínica, oferecendo acompanhamento terapêutico a casais, famílias e atendimento individual para adultos. Além disso, ministra cursos e palestras na área.

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