Mesmo com o fim do primeiro turno das eleições 2018, os brasileiros ainda não conseguem prever quando a tranquilidade no país será reestabelecida. Não se trata apenas da normalidade nos campos da saúde, educação e econômica. O momento é preocupante. Mesmo considerando as eleições nas últimas décadas, nunca tivemos ânimos e comportamentos tão descompensados como nesse período eleitoral. Entretanto, o cenário previsto para o segundo turno desta eleição é ainda mais pessimista e tenebroso. Isso porque, em tempos de redes sociais, fakes news e uma eleição completamente polarizada, um comportamento danoso foi bastante acentuado: a intolerância. Em outras palavras, nunca tivemos tantas tretas e brigas nos grupos de WhatsApp e nas redes sociais como agora.
Se hoje houver alguém no Brasil que não tenha se envolvido em brigas nos grupos de WhatsApp ou que ao menos não tenha ouvido falar de algum parente, amigo ou colega que tenha se desentendido por conta das eleições, com certeza está mentindo. Nessa eleição, a cada instante surge uma notícia nova. Sempre uma mais polêmica que a outra. Muitas delas, tocam em pontos altamente delicados de grupos sociais, étnicos e de gêneros. Ou seja, nunca se explorou tanto as diferenças numa disputa eleitoral. De maneira idêntica, nunca tantas pessoas se envolveram em brigas nos grupos de WhatsApp. De fato, a ferramenta usual de comunicação instantânea, o zap, tornou-se palco para manifestações de intolerância, desrespeito, ódio e agressões de todas as ordens. Por trás dessa prática pode haver muitos fatores preocupantes, inclusive transtornos mentais.
Tretas e brigas nos grupos de WhatsApp.
Ainda que você tenha conseguido sobreviver ao primeiro turno dessa eleição sem se envolver em brigas nos grupos de WhatsApp e nas redes sociais, saiba que ainda é cedo para comemorar. Nunca vimos tantos familiares, amigos se desentendendo num período eleitoral como estamos vendo nessa eleição. Mesmo que, em outras épocas, tenhamos vivido períodos tão críticos quanto esse, é provável que as redes sociais e os aplicativos de comunicação acirraram ainda mais o humor e a intolerância das pessoas. Esse tema tem repercutido bastante. Por essa razão, fui convidado pela TV Aratu, SBT Bahia para falar um pouco mais sobre a questão. Assim, quero compartilhar essa experiência com você.
A entrevista
Em minha fala procurei destacar as possíveis motivações por trás de comportamentos tão agressivos. Isso porque, em tese, as pessoas criam grupos no WhatsApp para intensificar a comunicação entre familiares, amigos ou grupos sociais e profissionais. No entanto, é muito comum que o convívio intermediado pelo aplicativo gere alguns conflitos. Isso é natural em qualquer forma de agrupamento entre pessoas, seja off-line ou on-line. Todavia, as tretas e brigas nos grupos de WhatsApp e nas redes sociais parecem estar fugindo à normalidade. É fundamental darmos atenção a esse comportamento.
Desse modo, salientei que devemos olhar os comportamentos danosos em todos os ambientes. É um erro considerar que isso ocorre apenas no WhatsApp. Ao restringirmos as grosserias e intolerâncias ao aplicativo, apenas nos afastamos dos principais agentes desse processo: o comportamento humano.
Ao chamar a atenção para as consequências dos nossos atos, percebemos que isso é algo vivenciado todos os dias, em todos os contextos. Não é um fenômeno exclusivo do período eleitoral ou do aplicativo. Todavia, nessa época, é ainda mais necessário ponderar nossos comportamentos e pensar nas consequências desses atos, especialmente contemplando o período após eleitoral.
Ponderar as consequências dos nossos atos faz com que novas maneiras de expressarmos nossos posicionamentos sejam detectadas. Ou seja, podemos descobrir formas de conviver sem deteriorar ou dar fim às nossas relações. É isso que tenho dito, especialmente aos meus pacientes no consultório, quando falo sobre assertividade.
Por que as pessoas estão brigando nas redes sociais?
Entre diversos fatores, há ao menos três razões especiais para as brigas nos grupos de WhatsApp e nas redes sociais.
Em primeiro lugar, as pessoas estão cada vez mais egoístas e presas dentro de seus próprios mundos. A intolerância, a falta de empatia, o desrespeito e as formas cada vez mais agressivas de externalizar posicionamentos, são características frequentes nos mais variados contextos e relações. Aqueles que agem dessa maneira, não percebem o quanto machucam as pessoas ao seu redor, prejudicando completamente o convívio. Ou seja, é um comportamentos que reflete o egoísmo das pessoas. Especialmente quando isso ocorre entre familiares e amigos.
A segunda razão deve-se a própria característica da interação das pessoas nos grupos de WhatsApp. As relações nesse ambiente, em sua maioria, são fracionadas. Ou seja, muitas delas ocorre apenas no ambiente virtual e geralmente os vínculos afetivos e emocionais são frágeis. Assim, raramente a pluralidade dos pensamentos é considerada. Isso abre caminhos para a intolerância, o ódio e os atos impulsivos. Cada um age como o detentor da verdade absoluta. Como essa é uma postura de muitos, é de se esperar que surjam os conflitos.
Ainda que estes já sejam elementos bastante delicados, há uma razão ainda mais forte para as tretas e brigas nos grupos de WhatsApp.
A treta nos grupo do Zap
Além das razões anteriores, quero destacar uma questão que poucas vezes é evidenciada: as brigas nos grupos de WhatsApp refletem o comportamento vivido fora do aplicativo. Ou seja, o problema não está no WhatsApp nem na formação dos grupos por meio do aplicativo. Em todos os contextos da sociedades as pessoas estão tendo o mesmo comportamento.
No dia a dia, nos mais variados contextos, as pessoas estão apresentando os mesmo comportamentos egoístas e intolerantes. Todas elas usam as diversas formas de agressividade para comunicar seus posicionamentos, sentimentos e emoções. Excluir alguém do grupo por ela ter um pensamento diferente ou se afastar de uma pessoa por ela não compartilhar das mesmas ideias não é uma exclusividade do WhatsApp ou dos grupos ali existentes.
Como melhorar?
O passo inicial é avaliar a importância que relações têm em nossa vida. A partir daí, é interessante mensurar as consequências dos tratamentos que damos a esse relacionamento. Em seguida, é fundamental buscar colher feedbacks sobre a forma que estamos conduzindo esses processos. Com essas não são tarefas fáceis, muitas pessoas recorrem ao auxílio de um psicólogo para compreender melhor as questão. Desse modo, é possível desenvolver um autoconhecimento e traçar as melhores estratégias para lidar com a situação.
Quando nos deparamos com todos esses desdobramentos decorrentes das brigas vivenciadas nos grupos de WhatsApp, entendemos que algo está errado. Assim, pensamos logo que a culpa é das pessoas. Na verdade, a questão é bem mais abrangente. Falta às pessoas algumas características fundamentais: habilidade social, empatia e sensibilidade para enxergar e valorizar os outros. E isso não é uma exclusividade do Zap. Em muitos casos, essa forma de ser agir, pode camuflar um transtorno mental bastante delicado.