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Indiscutivelmente, os emojis são parte essencial da comunicação por texto praticada por meio da internet. A versão mais atual desses símbolos são os stickers ou figurinhas personalizadas: uma verdadeira paixão entre os usuários. No entanto, poucos sabem como surgiu a ideia de utilizar essa linguagem nas mensagens instantâneas. Menos ainda, são aqueles que conhecem a relação deles com a psicologia e os estudos das emoções.

Emoji é uma palavra japonesa, formada por “e” (imagem) e “moji” (personagem). Isso já elucida o contexto e onde o conceito nasceu, por volta da década de 90. O criador foi o japonês Shigetaka Kurita. Desde então, os emojis popularizaram-se e houve uma significativa transformação da troca de mensagens em um processo muito mais divertido e expressivo

Shigetaka Kurita, criador dos emojis.
Shigetaka Kurita, criador dos emojis.

A expressão dos sentimentos e emoções

Somente 8% da população brasileira consegue ler e interpretar um texto. Isso é o que diz uma pesquisa do IPM e da Ong Ação Educativa (2016). Veja aqui. Certamente, o mesmo não ocorre com a leitura e análise de imagens. Não por acaso, o surgimento dos emojis contribuiu significativamente para tornar mais fluida a troca de mensagens. Além do mais, nesse contexto, os emojis tornaram mais eficiente a maneira pela qual se expressa ideias, sentimentos e emoções.

A proposta de expressar adequadamente os sentimentos e emoções está presente em diversas áreas da psicologia. Por exemplo: a assertividade, linguagens corporais e o comportamento verbal, proposto por Skinner. Todos esses meios ajudam as pessoas a se comunicar melhor, ou seja, deixando cada vez mais evidente seu posicionamento diante de determinada situação ou contexto. Justamente por isso, os emojis fazem tanto sucesso, pois expressam de forma mais nítida o sentimento durante a interação. Entretanto, algumas pessoas veem nesse recursos de linguagem apenas o caráter prático e divertido da comunicação.

Complemento à linguagem

Com o advento da comunicação virtual, por meio da escrita, o desafio é a comunicação de sentimentos. Mesmo utilizando a pontuação consagrada da língua (exclamações, interrogações, reticências etc.), que permite a identificação do “subtexto” ou “leituras das entrelinhas” de uma mensagem escrita, parece necessário dispor de indicadores “extras” da emoção, por meio de símbolos gráficos.

Del Prette A., Del Prette, (2017)

Conforme os autores supracitados, os emojis funcionam como complemento à linguagem escrita. Ou seja, são símbolos que têm por objetivo transmitir sentimentos, emoções, intenções, pensamentos. Quanto a isso, não há dúvida. Contudo, é importante questionar os eventuais prejuízos colecionados diante dessa prática. Afinal, muitas pessoas estão perdendo a habilidade de expressar seus sentimentos e emoções por outras vias das expressões humanas.

A parte pelo todo

Introjetar para si a metonímia de expressar sentimentos e emoções por meios dos emojis (exclusivamente ou em maior parte) é preocupante. Infelizmente, essa é uma realidade vivida especialmente pelos mais jovens. No entanto, este grupo não está sozinho. Essa também é uma prática daqueles que se comunicam principalmente por meio das redes sociais ou aplicativos de conversa instantâneas, como o WhatsApp. O risco desse hábito prático, divertido, mas também danoso, é que o ser humano pode perder a habilidade e a variabilidade de se comunicar por outros meios. Ou seja, tal hábito pode atrofiar outras maneiras de externalizar os sentimentos, emoções e demais aspectos da subjetividade humana. Sim, esse é um aspecto desumanizador dessas interações.

Não obstante, um dado tão emblemático quanto o que informa que apenas 8% da população de um país consegue ler e interpretar um texto não deve ser desassociado da linguagem primordialmente utilizada por esse povo. Ao restringir todo potencial expressivo aos emojis e suas figurinhas, perde-se o potencial de comunicar ideias , sentimentos e emoções por outras formas efetivamente mais humanas. Em paralelo, é notória a insegurança emocional das pessoas que enfrentam a timidez, dificuldades para iniciar uma conversa, paquerar ou fazer uma apresentação em público. Todavia, muitas dessas pessoas não encontram dificuldades para se expressar através das figurinhas e dos emojis. O curioso é perceber que a eficácia desse método é seletiva e não contempla todos os contextos. Diante disso, é possível concluir que a humanidade já está num estágio avançado dessa degradação. O que você pensa sobre isso?

Del Prette A., Del Prette, Z.A.P. (2017). Competência Social e Habilidades Sociais: Manual Teórico-prático. Petrópolis: Editora Vozes, 252 p.
Elídio Almeida

Psicólogo em Salvador, formado pela Universidade Federal da Bahia (UFBA) e especializado em Terapia de Casal e Relacionamentos (CRP). Possui também pós-graduação em Psicologia Clínica pela Universidade do Estado da Bahia (UNEB). Dedica-se à prática clínica, oferecendo acompanhamento terapêutico a casais, famílias e atendimento individual para adultos. Além disso, ministra cursos e palestras na área.

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