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A deputada federal Flordelis, foi apontada pela Polícia Civil e pelo Ministério Público do Rio (MPRJ) como a mandante do assassinato do marido. Segundo os investigadores, além arquitetar o crime fatal, ela tentou assassinar o esposo e pai dos filhos do casal por envenenamento, em pelo menos seis ocasiões. Além dessas tentativas, Flordelis também é acusada de ter contratado pistoleiros em outras duas oportunidades. De acordo com as instituições, a pastora, cantora gospel e deputada federal, teria arquitetado o crime com o intuito de acabar com o relacionamento

O fato é que o trágico caso surpreende a todos, especialmente por partir de uma integrante de um coletivo que defende valores supra religiosos, morais e éticos altamente rígidos. Especialmente quando se trata da vida alheia. Tal grupo, do mesmo modo, apresenta-se como o modelo de família e relacionamento para toda a sociedade. Embora paradoxal em seus próprios argumentos, a lógica adotada por Flordelis para terminar o relacionamento pode refletir o pensamento de outras pessoas do corpo social. Por essa razão, a questão precisa ser debatida e questionada.

Matar para não escandalizar o próprio nome

Entre as provas do crime, a Polícia Civil e o MPRJ, apontam uma mensagem surpreendente. Nela Flordelis sugere que o assassinato do marido seria a única saída “digna” de terminar o relacionamento. Desse modo, Flordelis teria dito: “Fazer o quê? Separar dele não posso, porque senão ia escandalizar o nome de Deus“. Segundo tal lógica, a pastora, cantora gospel e deputada federal, entendeu que entre terminar o relacionamento e assassinar o marido e pai dos filhos, a segunda opção chocaria menos a sociedade. Ou seja, assumir o papel de viúva, ainda que às custas do assassinato do próprio esposo, preservaria a imagem da “família perfeita” frente aos seus fiéis, seguidores e eleitores.

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Pastora, cantora e deputada federal Flordelis no enterro do marido.

Flordelis e a cultura do “até que a morte os separe”

Embora reflita uma narrativa completamente paradoxal, o raciocínio adotado por Flordelis para o término do relacionamento reflete uma cultura que precisa ser debatida e questionada. Ou seja, não raramente, surgem pessoas ou grupos ideológicos e religiosos que defendem o casamento eterno. Isto é, após o “sim”, somente a morte pode separar um casal. Diante disso, vários pares vivem frustrados e infelizes com o próprio relacionamento. Sendo assim, alguns comportam-se de maneira oposta aos votos de casamento, a exemplo dos casos de traição. Outros, contudo, também embasados na ideia de que nenhum casamento pode ser desfeito, anseiam pelo dia da morte do companheiro ou companheira. Sem dúvidas, também há aqueles que precipitam tal ocorrência, a exemplo do episódio Flordelis, que chocou o Brasil.

A morte jamais deve ser uma solução para os problemas do relacionamento 

A maneira escolhida por Flordelis para dar fim ao relacionamento, que não refletia mais compatibilidade entre o casal, sem dúvidas chocou a todos. Contudo, assim como ela, mesmo que de modo mais sutil, os defensores da relação eterna, da família perfeita, bem como o grupo dos “infelizes, porém casados”, acreditam que um casamento jamais deve ser desfeito, com exceção dos casos de óbitos. Assim, pessoas e grupos com esses ideais, devem recorrer a meios assertivos em que os problemas do relacionamento sejam solucionados de maneira adequada. Ou seja, por meio do diálogo, a partir da proposição de combinados diplomáticos acordados entre o casal. Dito em outras palavras, nenhum casal precisa conviver infeliz, especialmente em função das demandas e interesses religiosos e sociais. Nesse mesmo sentido, a morte jamais deve ser uma solução para os problemas do relacionamento entre o casal.

Elídio Almeida

Psicólogo em Salvador, formado pela Universidade Federal da Bahia (UFBA) e especializado em Terapia de Casal e Relacionamentos (CRP). Possui também pós-graduação em Psicologia Clínica pela Universidade do Estado da Bahia (UNEB). Dedica-se à prática clínica, oferecendo acompanhamento terapêutico a casais, famílias e atendimento individual para adultos. Além disso, ministra cursos e palestras na área.

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