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No Brasil, aqueles que sobreviveram às catástrofes de 2020 e afirmam não conhecer ou ter ouvido, pelo menos uma vez, a música “Rtita”, do cantor Tierry, certamente estão mentindo. A popular canção fala de uma traição, na qual um rapaz estaria disposto a perdoar a “facada” e retomar a relação. Para muitos, a ideia de voltar com um(a) ex, como no caso da música, é uma oportunidade vantajosa. Outros, contudo, têm nessa possibilidade um déjà-vu de antigos sofrimentos vivenciados na relação, que devem ser evitados. Seja como for, diante das circunstâncias em torno das questões de voltar ou não voltar com o/a ex, é fundamental compreender as particularidades de cada caso.

Prós e contras de voltar com o/a ex

Dentre as tragédias vivenciadas em 2020, sem dúvidas, especialmente entre os brasileiros, a pandemia da Covid-19 foi a que teve maior impacto. Nesse contexto, segundo o Gottman Institute, uma das referências mundiais em Terapia de Casal e relacionamentos amorosos, muitas pessoas reataram com o/a ex, na esperança ou necessidade de reviver e dar continuidade ao relacionamento. De pronto, algumas pessoas podem atribuir esse fenômeno a imposição do distanciamento social imposto pela crise de saúde global.

Todavia, ainda segundo o Gottman, essa reaproximação independe da pandemia. Isso é sustentado por pesquisas do instituto que sugerem ser constante o número de casais que se separam e voltam a ficar juntos, chegando a 50% dos casos. Para esse grupo, um dos maiores benefícios de voltar a um relacionamento antigo é saber, na maioria das vezes, no que está se metendo. Ou seja, é melhor voltar para alguém se conhece algo do que estar com uma pessoa desconhecida e começar a relação do zero.

Voltar com o/a ex é um dilema vivenciado por muitas pessoas. Por isso, é indispensável refletir bastante sobre essa decisão.
Voltar com o/a ex é um dilema vivenciado por muitas pessoas. Por isso, é indispensável refletir bastante sobre essa decisão.

Aqueles que se opõem a essa lógica, partem da premissa que a relação já evidenciou aquilo que o Gottman chama “diferenças perpétuas“. Isto é, atitudes e características que apontam conflitos e incompatibilidades no perfil do casal. Conforme o instituto, as diferenças perpétuas representam 69% dos problemas que a maioria dos casais enfrenta em um relacionamento. Por exemplo, o perfil pessoal de cada ser, assim como episódios como o de Rita que deu a “facada” da traição em seu companheiro. Desse modo, tais ocorrências conduzem ao menos metade dos homens e mulheres a projetar os comportamentos e acontecimentos, de modo a concluir que não vale a pena se submeter à possibilidade de reviver determinados sofrimentos na relação.

Vantagem ou cilada: cada caso é um caso

Se para uma fração dos pares, voltar com o/a ex representa“recomeçar de onde parou”, é fato que a outra parcela pensa de maneira oposta. Isto é, o segundo grupo trata a possibilidade de retornar à relação passada como o ato comprar um carro que já foi seu. Ou seja, seria como adquirir o veículo com os problemas anteriores, porém mais desgastado. Por isso, é fundamental compreender as particularidades de cada situação. Afinal, as pessoas podem aprender com os seus erros e com a própria experiência. Assim, não dá para generalizar ou radicalizar diante dos acontecimentos e características apresentadas por cada pessoa.

Inclusive, até as ditas diferenças perpétuas fazem parte da condição humana que torna, necessariamente, uma pessoa diferente da outra. Em vista disso, a relação tem o propósito testar os pares para que encontrem o ponto de equilíbrio, negociem e convivam com as diferenças. Somente de posse desse aprendizado é que será possível afirmar se a possibilidade de voltar com o/a ex será uma boa opção ou uma grande cilada a ser evitada. As Ritas e os Tierrys que o digam.

Elídio Almeida

Psicólogo em Salvador, formado pela Universidade Federal da Bahia (UFBA) e especializado em Terapia de Casal e Relacionamentos (CRP). Possui também pós-graduação em Psicologia Clínica pela Universidade do Estado da Bahia (UNEB). Dedica-se à prática clínica, oferecendo acompanhamento terapêutico a casais, famílias e atendimento individual para adultos. Além disso, ministra cursos e palestras na área.

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