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A pessoa que apresenta um quadro de hipocondria é facilmente identificada. Ela tem um comportamento compulsivo acerca de preocupações sobre o próprio estado de saúde. Não obstante, também manifesta enorme fixação por temas relacionados a doenças e exacerbado consumo de medicamentos. Contudo, muitas pessoas e até alguns profissionais, desconhecem as razões pelas quais esse transtorno se desenvolve. Por isso, é importante ir além da caracterização superficial da hipocondria. Afinal, somente compreendendo as causas reais é possível lidar adequadamente com aqueles que vivenciam esse mal.

Como a hipocondria é vista

Comumente, a pessoa hipocondria é caracterizada pelos seus sintomas desse quadro. Os sinais incluem:

  • medo intenso e prolongado de ter uma doença grave;
  • preocupação de que sintomas pequenos indiquem alguma doença perigosa;
  • obsessão por remédios e medicamentos;
  • frequente procura por consultas médicas e variabilidade de especialistas na área.

Diante de tais comportamentos, as pessoas que lidam com os hipocondríacos procuram dissuadi-las desse repertório. Isso ocorre de várias maneiras, especialmente atendendo ou ignorando as demandas apresentadas. Seja como for, esse tipo de intervenção é superficial, pois se atém apenas aos sintomas e não às causas dessa questão tão delicada. Assim, como já dito outras vezes aqui no blog, nenhuma abordagem é eficaz se tratar apenas dos sintomas, embora essa seja a praxe diante de vários casos, inclusive a hipocondria.

Causas da hipocondria

Antes de tudo, é fundamental considerar que a hipocondria é multicausal. Ou seja, não há um único fator que determine sua ocorrência. Mesmo assim, é comum que seus sintomas sejam tomados como causas. Isto é, o quadro hipocondríaco é visto como a causa dos comportamentos e queixas do paciente. Com isso, toda terapêutica é construída a partir desse viés. Tal comportamento é um equívoco, pois transforma a questão em um ciclo de loops infinitos. Por isso, é preciso pensar fora da caixinha, de modo a compreender a questão em sua raiz.

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Diante de causas indefinidas, muitas pessoas não sabem lidar com a hipocondria.

Pensando fora da caixinha

Reflita comigo. Geralmente, qual é o comportamento que você apresenta quando uma criança (por exemplo, seu filho) diz que está doente? Certamente, você pergunta o que ele tá sentindo, checa a temperatura e fica em observação, correto? Tais intervenções, além de pertinentes, cumpre uma função nem sempre observada: dedica-se o máximo de atenção ao outro. Esse plus é tão benéfico que as próprias crianças aprendem a usar esse expediente para atrair para si a atenção em diversas ocasiões. Em alguns casos, elas utilizam desse artifício para ter suas vontades atendidas, como evitar ir para a escola, por exemplo. O fato é que se isso funciona tão bem nessa fase da vida, certamente será levado para outros estágios. Não por acaso, adultos e idosos, consciente ou inconscientemente, seguem esse modelo funcional.

Nesse sentido, pensar fora da caixa pode conduzir adequadamente às análises e ações em torno da hipocondria. Em outras palavras, trabalhar no cerne da questão pode trazer benefícios a todos os envolvidos. Afinal de contas, amigos, parentes e profissionais que lidam com pessoas hipocondríacas são conscientes que em muitos casos esse repertório tem a função de atrair atenção. Assim, obviamente, após descartadas as questões orgânicas e patológicas, nada justifica o reforço ou manutenção dos ciclos destes sintomas. São exemplos desses reforços a prescrição de placebos, medicamentos ou exames desnecessários, bem como investidas nas narrativas fantasiosas dos hipocondríacos. 

Uma alternativa experimental

No livro Competência Social e Habilidades Sociais, Del Prette e Del Prette (2007), apresentam um caso que ilustra bem alguns aspectos da hipocondria, como discutidos acima. Eles citam o exemplo de uma mulher que queixa-se de uma amiga que só falava de doenças e remédios. Essa mulher mostrava preocupação nos primeiros momentos, mas sempre se esquivava dessa relação, pois os temas lhes eram aversivos. No entanto, assim como embarcar e incentivar o enredo hipocondríaco, adotar o afastamento é pouco producente. No caso em questão, a amiga sempre surgia com uma doença nova e o ciclo se repetia.

Como falar da própria doença ou sobre tratamentos é estratégia que muitas pessoas utilizam para obter a atenção, é importante acrescentar algo mais a esse roteiro. Tendo em vista que essa tática é ambígua, ou seja, ao mesmo tempo que produz atenção também gera afastamento, é importante ir além na condução dessas situações. Sair da superficialidade e atacar o mal pela raiz, significa prover e explorar temáticas distintas e amistosa. Na prática, deve-se abordar uma pessoa com perfil hipocondríaco por meio de temas diversos que contemplem a atenção e ao mesmo tempo seja pertinente e agradável ao interlocutor.

Vale ressaltar que o primeiro passo é descartar causas orgânicas e patológicas do comportamento hipocondríaco. Após esse cuidado, fique à vontade para listar diferentes temas, conversar e mudar de assunto quando alguém falar sobre doenças e remédios. O resultado será fantástico para todos.

Elídio Almeida

Psicólogo em Salvador, formado pela Universidade Federal da Bahia (UFBA) e especializado em Terapia de Casal e Relacionamentos (CRP). Possui também pós-graduação em Psicologia Clínica pela Universidade do Estado da Bahia (UNEB). Dedica-se à prática clínica, oferecendo acompanhamento terapêutico a casais, famílias e atendimento individual para adultos. Além disso, ministra cursos e palestras na área.

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