Inspirado no “Outubro Rosa”, o objetivo do “Janeiro Branco” é promover a conscientização acerca da importância dos cuidados com a Saúde Mental. O movimento surgiu em 2014, criado por psicólogos de Uberlândia-MG. A campanha incentivada pelo “Janeiro Branco” tem grande relevância, especialmente quando impera a cultura da positividade tóxica, que age de modo a distorcer a noção de bem-estar emocional e saúde mental. Assim, a campanha do “Janeiro Branco” pode servir de trampolim para reflexões acerca de condutas adequadas que, efetivamente, podem contribuir para o bem-estar pessoal e social de todos.
O Janeiro Branco e os gatilhos para o adoecimento mental
Cotidianamente as pessoas convivem ou são expostas a tragédias e violências das mais diversas ordens. Não por acaso, alguns veículos de comunicação especializaram-se em explorar eventos trágicos e violentos, sejam eles causados por ação humana, catástrofes sociais ou decorrentes da fúria da natureza. Paralelamente, há quem procure negligenciar tais ocorrências ou atue de modo a evitar que outras pessoas tenham qualquer acesso a este tipo de acontecimento. Para este grupo, manter distância ou driblar tais episódios são formas de preservar a saúde mental, mesmo que para isso seja criado uma realidade paralela. Por isso, a campanha do “Janeiro Branco” é uma oportunidade de refletir sobre esta atitude.
Obviamente, as pessoas que têm acesso às adversidades inerentes ao cotidiano são impactadas emocionalmente por estes eventos. Isso independe se elas estão na condição de vítima ou vivenciam tal experiência direta/indiretamente. No entanto, em nome de um possível bem-estar psicológico e supostamente para preservar a saúde mental da população, alguns veículos de imprensa, assim como muitos “militantes de Instagram” censuram ou se posicionam contra a exposição das imagens e notícias acerca destes episódios. Isso ocorre mesmo quando a publicização não viola a dignidade das pessoas, muito menos as leis que regem esse tipo de ocorrência. Segundo tal lógica, as imagens poderiam “causar gatilhos” e suscitar transtornos psicológicos ou adoecimento mental. Inclusive, parte do corpo social se apoia no “Janeiro Branco” para agir desta maneira. Isso é um equívoco.
As bolhas sociais e a positividade tóxica
Na verdade, muitos acreditam que a maneira de prevenir ou tratar as questões relacionadas à saúde mental é criando bolhas que visam descolar as pessoas da realidade, impondo atos de positividade tóxica ou provocando o riso fácil. Ou seja, ninguém pode se angustiar, se frustrar ou sofrer. Adotar tal conduta revela, no mínimo, dois aspectos preocupantes. Primeiro, demonstra uma banalização quanto aos manejos e cuidados com o adoecimento mental da população. Em segundo lugar, amplia-se ainda mais o leque de pessoas que vivem à margem da realidade. Ou seja, com total inabilidade para lidar com as adversidades inerentes à condição humana.
Por isso, a campanha do “Janeiro Branco” cumpre um papel importante ao chamar a atenção quanto aos cuidados à saúde mental. Todavia, nunca é demais alertar que não é criando bolhas de realidades paralelas, tampouco promovendo o descolamento da realidade que se promove o bem-estar da população. Insistir nesse método distópico, muito comum aos amadores, em especial entre a militância do Instagram, é contribuir para formar pessoas com baixa tolerância às frustrações: um dos principais fatores que está realmente associado ao adoecimento mental. Nesse sentido, todos podem partir da reflexão proposta pela campanha do “Janeiro Branco” e adotar uma postura mais responsável para o bem-estar pessoal e social.