Skip to main content

Com a proximidade do Dia dos Namorados, o tema do ciúme volta a ser amplamente discutido nas mídias, especialmente nas redes sociais. Em meu site, já escrevi diversos textos sobre o ciúme e como é complexo lidar com esse sentimento, que muitas vezes representa um problema significativo na vida dos casais. Afinal, o ciúme pode se tornar tão prejudicial que, em alguns casos, é utilizado para justificar comportamentos tóxicos, abusivos e até criminosos.

Apesar disso, muitas pessoas acreditam erroneamente que a ausência de ciúmes em um namoro ou casamento pode ser um problema para a relação, pois veem o ciúme como uma demonstração de amor. No entanto, essa visão está completamente equivocada. Neste texto, pretendo abordar e discutir mais detalhadamente essa questão para esclarecer a verdadeira natureza e o impacto do ciúme nos relacionamentos amorosos.

Como explicar o Ciúme?

O ciúme é um sentimento de insegurança que se manifesta para indicar o medo de traição ou o receio de perder a pessoa amada e, claro, ver o relacionamento chegar ao fim. Esse medo pode ser desencadeado por percepções reais ou imaginárias de ameaça ao relacionamento. Por exemplo, a cantora Vanessa da Mata, em sua música “Quem Irá Nos Proteger”, capta bem essa ideia ao descrever o ciúme como “o medo de tomarem o que é meu”. Essa definição sintetiza a essência do ciúme: uma resposta emocional ao medo de perder alguém importante.

Em outras palavras, o ciúme é uma reação emocional que surge quando sentimos quando alguém que consideramos valioso está em risco de nos deixar ou ser tomado de nós. Esse sentimento, se não for compreendido e gerenciado de maneira adequada, pode levar a comportamentos ansiosos, impulsivos e controladores, que acabam por sufocar, prejudicar ou inviabilizar a relação. Por isso, é seguro afirmar que a essência do comportamento ciumento tem suas raízes na insegurança. O ciúme, portanto, é um sintoma que reflete o medo gerado pelo receio de perder a pessoa amada.

O ciúme tem a função de mostrar ao casal que algo não vai bem e que é necessário conversar para resolver aquilo que causa insegurança ao casal e ao relacionamento.

Excesso ou falta de ciúme no relacionamento?

A presença ou a ausência do comportamento ciumento em um relacionamento amoroso pode ser um indicativo da saúde do namoro ou casamento em questão. Tecnicamente, em outras palavras, quanto menos ciúme é experimentado na convivência a dois, mais isso pode indicar que o casal vive uma relação com segurança e estabilidade, sem o medo constante de que qualquer coisa possa abalar o relacionamento.

Embora essa seja a visão de quem estuda, pesquisa e trabalha cotidianamente com o impacto dos ciúmes nos relacionamentos amorosos, essa perspectiva não é amplamente compartilhada pelo corpo social. Na verdade, muitas pessoas ainda veem o ciúme como uma das principais características de um relacionamento, utilizando-o como um qualificador da relação. De tal modo, homens e mulheres, equivocadamente, consideram que a ausência de ciúmes em um namoro ou casamento pode ser prejudicial, pois interpretam o ciúme como uma demonstração de amor. Claro que estão enganados!

Ciúme é prova de amor?

Alguns chegam ao ponto de provocar ciúme em seus parceiros intencionalmente, acreditando que gerar insegurança, desconforto e medo no outro é essencial para validar o amor. Outros, por sua vez, para tentar driblar a insegurança e o temor, adotam comportamentos de controle sobre o parceiro ou parceira de todas as formas possíveis: vasculham o celular um do outro, só se sentem minimamente seguros quando estão juntos, e agem como se fossem inseparáveis.

Como consequência, essas atitudes, em vez de fortalecerem o relacionamento, tendem a sufocá-lo, criando um ambiente de constante vigilância e tensão. Além disso, essas ações precisam ser constantemente reforçadas, pois a segurança desejada nunca é alcançada através de métodos ineficazes para lidar com questões de ciúme. Desse modo, é impossível acreditar que algo que demanda tantas manobras e manejos seja saudável para o convívio a dois. Portanto, é essencial encontrar formas saudáveis de lidar com a insegurança para garantir um relacionamento mais equilibrado e satisfatório.

terapia de casal, ciúme, psicologo, relacionamento, namoro, casamento, terapia de casal em salvador, Elídio Almeida
Muitas pessoas consideram que ser ciumento é uma forma de demonstrar amor e cuidado com a pessoa amada. No entanto, esse comportamento na verdade reflete a insegurança de quem sente ciúme.

Ciúmes saudável existe?

Talvez o mais adequado seja dizer que não existe ciúme saudável em um relacionamento. Ao longo de 14 anos de carreira, ainda não me deparei com nenhum caso ou argumento que sustente que o ciúme não seja prejudicial. A presença do ciúme no namoro ou casamento é um sinal de que o casal, ou um dos membros, está convivendo com algum fator que gera insegurança nesse relacionamento. Isso significa que existe algum elemento, seja ele real ou imaginário, que está causando insegurança, conflitos e tensão no namoro ou casamento. Portanto, não faz sentido a ideia de que o ciúme não seja prejudicial.

Contudo, apesar do mal-estar que ele causa, é fundamental destacar que o ciúme tem a função de mostrar ao casal que algo não vai bem e que é necessário conversar para resolver essa questão. Em outras palavras, o ciúme não é a causa dos conflitos vivenciados pelo casal; ele é uma consequência, um sintoma de problemas subjacentes.

Como desenvolver confiança e resolver os problemas do relacionamento?

A comunicação é fundamental para um relacionamento saudável. Casais que conversam abertamente sobre seus sentimentos, percepções e preocupações tendem a desenvolver uma confiança mútua mais sólida. Para isso, é essencial criar um espaço seguro onde ambos se sintam confortáveis para expressar suas emoções sem medo de julgamento ou retaliação.

Contudo, dialogar é algo que muitos casais têm dificuldade, pois as tentativas de abordar problemas no relacionamento muitas vezes evoluem para brigas ou crises conjugais. Por isso, é fundamental que casais que enfrentam dificuldades em construir uma comunicação adequada procurem ajuda profissional. A terapia de casal, por exemplo, pode oferecer suporte, técnicas e estratégias para superar inseguranças, ciúmes e conflitos no relacionamento. Abaixo sugiro algumas práticas recomendadas para fortalecer a confiança e reduzir o impacto do ciúme no namoro ou no casamento:

1. Promover a comunicação aberta e honesta

  • Espaço seguro: Crie um ambiente onde ambos se sintam à vontade para expressar sentimentos e preocupações sem medo de retaliação. Isso é crucial para uma comunicação eficaz.
  • Escuta ativa: Pratique a escuta ativa, mostrando que você está prestando atenção e compreendendo o que o outro está dizendo. Ou seja, responder de forma empática ajuda a construir uma base sólida de confiança.

2. Estabelecer regras e limites claros

  • Expectativas claras: Discutir e alinhar expectativas sobre o relacionamento pode prevenir mal-entendidos e reduzir o ciúme. Definir o que é aceitável e o que não é ajuda a evitar conflitos futuros.
  • Respeitar limites: Respeite os limites estabelecidos pelo seu parceiro e siga as regras acordadas mutuamente. Isso demonstra respeito e cria confiança mútua.

3. Focar na construção de confiança

  • Transparência: Seja transparente em suas ações e intenções. A honestidade constante é fundamental para estabelecer e manter a confiança.
  • Consistência: Mantenha-se consistente em suas palavras e ações. Cumprir promessas e manter a palavra constrói um sentimento de segurança no relacionamento.

4. Reservar tempo de qualidade

  • Momentos a sós: Reserve um tempo semanal para conversas sinceras sobre o relacionamento, onde cada um pode falar sobre seus sentimentos e preocupações em um ambiente tranquilo e respeitoso.
  • Atividades conjuntas: Realize atividades que ambos apreciem, fortalecendo a conexão e reduzindo as oportunidades para o ciúme se manifestar.

5. Investir no crescimento pessoal

  • Autoconhecimento: Incentive o autoconhecimento e o crescimento pessoal, pois indivíduos seguros de si mesmos tendem a ser menos ciumentos.
  • Autoestima: Trabalhe na construção de sua autoestima. Quando cada parceiro se sente bem consigo mesmo, há menos necessidade de buscar validação constante.

6. Buscar ajuda profissional

  • Terapia de Casal: Procure ajuda profissional se encontrar dificuldades para se comunicar ou resolver conflitos. A terapia de casal pode ser um recurso essencial para esse processo.
  • Mediação de conflitos: Um paicólogo pode ajudar a mediar conflitos e ensinar técnicas de comunicação eficazes, promovendo um relacionamento mais saudável.

7. Reforçar a positividade no relacionamento

  • Elogiar e apreciar: Elogie e mostre apreciação pelo seu parceiro. Reforçar aspectos positivos pode fortalecer a conexão e reduzir inseguranças.
  • Expressar gratidão: Demonstre gratidão pelas pequenas e grandes coisas que seu parceiro faz. A gratidão ajuda a criar um ambiente de apoio e confiança mútua.

8. Manter a independência e a individualidade

  • Equilíbrio pessoal: Encoraje a manutenção de interesses e atividades individuais. Um relacionamento saudável deve permitir que ambos os parceiros cresçam como indivíduos.
  • Tempo sozinho: Valorize e respeite o tempo que cada um precisa para si mesmo. Isso ajuda a evitar a co-dependência e reduz o ciúme.

Em resumo, um relacionamento deve ser leve, seguro e promover o bem-estar de todos os envolvidos. Qualquer desvio desse caminho é um sinal de que algo não está bem e deve ser compreendido na raiz, e não apenas nos sintomas, como é o caso do ciúme. Trabalhar em conjunto para desenvolver uma base sólida de confiança é essencial para minimizar problemas de ciúmes e garantir a saúde e a longevidade da relação.

Elídio Almeida

Psicólogo em Salvador, formado pela Universidade Federal da Bahia (UFBA) e especializado em Terapia de Casal e Relacionamentos (CRP). Possui também pós-graduação em Psicologia Clínica pela Universidade do Estado da Bahia (UNEB). Dedica-se à prática clínica, oferecendo acompanhamento terapêutico a casais, famílias e atendimento individual para adultos. Além disso, ministra cursos e palestras na área.

Deixe uma resposta