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Ultimamente, tenho estado bastante preocupado com a quantidade gigantesca de pessoas com “diagnóstico” de hiperatividade feitos, na maioria das vezes, pelas escolas ou pelos pais e leigos no tema.
Basta a criança ou adolescente sair do padrão esperado, que o problema é rapidamente apontado: “esse menino tem um problema”. E qualquer comportamento um pouco diferente já é suficiente para falar em hiperatividade, transtornos, doenças e remédios. E isso tem sido em cada vez mais frequente.

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Hiperatividade é coisa séria.

O que pouco se discute em toda essa questão são os interesses e por trás de tantos rótulos e tantos medicamentos. As pessoas precisam ficar atentas, pois há muita coisa envolvida nessa onda de hiperatividade: são médicos e instituições que têm interesses em manter seus pacientes fiéis por muitos e muitos anos; professores e pais que desejam alunos e filhos mais e mais tranquilos, mesmo que isso seja à custa de algum remedinho; tem também a indústria farmacêutica que está interessada em ver seu negócio prosperar e, para isso, prometem milagres em suas fórmulas mágicas.
Em toda essa questão muitos pais se perguntam: “Mas se meu filho é hiperativo, não é melhor dar um remedinho?”.
Até pode ser, mas remédio, só se for realmente necessário. E para isso é preciso saber e ter certeza de que realmente é o caso. Não por acaso, muitos se perguntam: Qual a diferença entre adolescentes agitados para adolescentes com TDAH – Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade? Como as conclusões para o diagnóstico foram tiradas?
Vamos tentar entender melhor essas questões.

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O TDAH e o problema em si

Há algum tempo, TDAH era apenas uma sigla. Com o passar do tempo, sobretudo com a facilidade de veiculação de informações pela internet, a sigla tornou-se popular e qualquer pessoa se sente no domínio da informação e habilitada a utilizá-la conforme sua conveniência, numa verdadeira fábrica de diagnósticos e rótulos.
Essa é uma situação muito grave, pois tem-se criado uma avalanche de efeitos extremamente catastróficos para vida de muitas pessoas, já que muita gente tem sido medicada de forma indevida. Isso se torna ainda mais preocupante com a recente intenção da Associação Americana de Psiquiatria em flexibilizar o diagnóstico e reduzir os critérios para o transtorno. Ou seja, pelo andar da carruagem, cada vez mais pessoas serão tidas como portadoras dos transtornos de hiperatividade.
Vivemos numa época em que, ao menor sinal de problema, é extremamente raro encontrar pessoas assumindo suas responsabilidades. Em muitos casos, chego a ficar assustado quando professores percebem que determinados alunos tem um ritmo diferenciado dos demais e afirmam que o aluno tem problemas, que é muito agitado e que tem que ser levado ao médico para tomar remédio.
E com isso, qualquer motivo é razão para indicar um tratamento medicamentoso: tristeza, falta de energia, muito ativo, pouco ativo, timidez
A questão é exatamente essa: se tivéssemos uma medicação que tratasse isso e curasse, estaria tudo resolvido; só que não cura, funciona apenas como um paliativo, simplesmente seguram ou maquiam os comportamentos, tira a autonomia da criança ou adolescente durante algum tempo. Mas não resolve a questão. Prova disso, é que as pessoas podem passar o resto da vida tomando tais medicamentos para controlar ou modificar determinados comportamentos. Isso sem falar em todos os efeitos colaterais e riscos a que são expostas.
Alguns profissionais chegam a dizer que os remédios utilizados no tratamento do TDAH, não têm efeitos colaterais. Todavia, devemos receber esse tipo de informação com bastante crítica, pois todos sabem que não existe na face da terra um remédio que não tenha efeito colateral, dentre eles, é importante destacar efeitos colaterais como a alegria desmedida, pensamento suicida, perda da autonomia cognitiva, alucinações, insónia… esses parecem ser efeitos bastante preocupantes, não?

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As pesquisas acerca do TDAH são muito recentes e, por isso, poucas pessoas tiveram atendimento adequado para enfrentar esse problema.
Como a hiperatividade começou a ser estudada há cerca de 30 anos, muitos adultos que apresentam o transtorno jamais passaram por qualquer tipo de tratamento. Hoje, essas pessoas estão presentes em todos os contextos: escolas, faculdades, empresas… e as características mais evidentes são: dificuldades em receber ordens no trabalho, dificuldades para concluir uma faculdade ou até mesmo lidar com situações adversas e de confronto.
Não tratar da questão desde os primeiros sintomas, pode causar ainda mais problemas. E o que fica mais prejudicado é a autoestima, a imagem que a pessoa tem de si e as limitações sociais e afetivas. No geral, com uma visão muito depreciativa de si.

Mas o que tem sido feito para enfrentar esse problema?

O diagnóstico para um caso de TDAH não é fácil. Associado a isso, recente pesquisa da USP, em parceria com outras universidades ao redor do mundo, revelou que 70% dos remédios usados no tratamento da hiperatividade foram prescritos de forma equivocada, sem o diagnóstico preciso. Esse episódio ficou conhecido como o “massacre da tarja preta”. Com isso, não podemos deixar de pensar na responsabilidade dos pais em todo esse processo, afinal, uma criança ou até mesmo os adolescentes não tem condições de se defender de um remédio de tarja preta, de um professor cheio de diagnósticos, de mães que levam seus filhos de médico em médico até encontrar algum que prescreva um “sossega leão”.

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Os pais devem lembrar que eles conhecem mais os seus filhos do que qualquer professor (que muitas vezes quer apenas se eximir de qualquer problema ou dificuldade) ou um profissional que foi consultado apenas uma vez.
Há muitos interesses por trás de tantas queixas, tantos receituários e tantas prescrições. Tudo isso parece mais um jogo de batata-quente, onde ninguém quer o problema em sua mão e todos procuram a resposta mais fácil e rápida.
Quando alguém disser que seu filho não tem um comportamento normal, que tal devolver a pergunta: o que é ser normal? Em que manual você viu isso?
Quem convive com a hiperatividade sabe que não é nada fácil enfrentar todas as situações do dia a dia. Devemos ter em vista que não é buscando resultados paliativos que enfrentamos os problemas. O mais adequado seria criar estratégias para ter domínio sobre os comportamentos e discernir quais deles serão os mais adequados para cada ambiente. Aliás, essa é a característica que todos nós devemos possuir em todos os dias de nossa vida. E isso nenhum remédio é capaz de nos ensinar.

Elídio Almeida

Psicólogo em Salvador, formado pela Universidade Federal da Bahia (UFBA) e especializado em Terapia de Casal e Relacionamentos (CRP). Possui também pós-graduação em Psicologia Clínica pela Universidade do Estado da Bahia (UNEB). Dedica-se à prática clínica, oferecendo acompanhamento terapêutico a casais, famílias e atendimento individual para adultos. Além disso, ministra cursos e palestras na área.

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