Tempos atrás, um jovem me confidenciou que estava gostando de uma colega de trabalho. No entanto, evitava falar ou demonstrar esse sentimento, com receio de receber um fora ou “pagar um mico”. Certamente, muitas pessoas passam por dilemas semelhantes, nos mais variados contextos. Isso costuma ocorrer, em especial, quando precisam demonstrar seus pensamentos, sentimentos e emoções. Ademais, no mundo pós-moderno, impera na sociedade um modelo de perfeccionismo dos comportamentos. Isso contribui para que as pessoas inibam ou destruam uma característica inerente ao ser humano: a espontaneidade. Por isso, é importante refletir sobre a cultura de ficar calado para não correr o risco de ‘pagar um mico’.
Como surge o medo de “pagar um mico”?
A sociedade na qual vivemos é muito aversiva. Diante disso, via de regra, grande parcela do corpo social reage muito mal a tudo aquilo que é diferente do padrão imposto. Em outras palavras, qualquer comportamento que destoe da lógica dominante ou vá de encontro ao paradgma esperado socialmente, tende a ser rechaçado e punido de imediato. Cientes disso, se pensa mil vezes antes de tomar qualquer atitude. Inevitavelmente, tal realidade nociva estimula cada vez mais a insegurança. Afinal, vive-se constantemente o dilema entre externalizar aquilo o que é pensado/sentido e a possibilidade de ser mal recebidos. Ou seja, devido ao limitado e cruel padrão social, torna-se previsível o resultado sombrio das ações. Assim, na dúvida, a tendência é ficar calado pelo receio de cometer um deslize e com isso receber punições.
Por que somos pessimistas ao prever os resultados?
Em primeiro lugar, em tese, todos conhecem a si mesmos melhor do que ninguém. Cada um sabe suas limitações, fragilidades e inseguranças. De tal forma, isso é respaldado pelo ditado popular que diz: ‘cada um sabe onde seu sapato aperta’. Em segundo lugar, a todo momento postagens nas redes sociais bombardeiam os indivíduos, bem como os stories e cases de sucesso que parecem criar um abismo entre um mundo ideal e o sujeito real. O resultado disso é a percepção inequívoca de que tudo a nossa volta é perfeito. Assim, surge a ideia de que se está sempre aquém da excelência, impactando na autoestima das pessoas. Diante dessa cruel “realidade”, muitas pessoas não se sentem à vontade para falar aquilo que pensam ou sentem. Assim sendo, optam – primordialmente – em ficarem caladas, com receio das represálias.
Com efeito, surgem as inseguranças emocionais, o isolamento social e até mesmo a sensação de pânico e desajuste psicológico. Esses fatores contribuem para que muitos sejam pessimistas e inibam seus comportamentos. Assim, para lidar com esse cenário perturbador, é fundamental adotar alguns comportamentos mais eficazes. Para isso, torna-se indispensável adotar novos modelos de ações que favoreçam o aumento da taxa de sucesso na interação entre os indivíduos e a sociedade.
Fuja dos extremos
Sem dúvidas, lembrar que sempre há outras opções entre os extremos de ficar calado ou ‘pagar um mico’ torna-se fundamental no mundo moderno. Recorde-se, por exemplo, de quando você estava aprendendo a andar de bicicleta ou quando começou a dirigir. Obviamente, havia naqueles momentos o medo de cair ou bater o carro, não é verdade? Nesse contexto, mesmo havendo essas possibilidades negativas de quedas e prejuízos (o mundo e as relações estão cheios delas) você, pouco a pouco, tentou se superar. Desse modo, a perseverança lhe conduziu a um estágio mais seguro e confiante para avançar naquelas investidas. Essa postura persistente deve ser retomada para agir de forma mais segura nos momentos de expressar os sentimentos. Isso, além de favorecer novos aprendizados, contribui para a ascensão e confiança no desenvolvimento das relações.
Contudo, deve-se ter em vista que acertar nem sempre é possível. No entanto, ao avaliar o contexto, as respostas e ajustar os comportamentos, a taxa de sucesso e segurança emocional e psicológica estarão sempre em evolução.
A dica que costumo passar para meus pacientes é que eles devem aprender a analisar calmamente essas situações que geram inseguranças. A proposta não é ficar calado, tampouco ‘pagar mico’. Ao contrário: à medida que se conhece mais profundamente as pessoas, as relações e as respostas que se recebe em determinados contextos, podem ser traduzidas em aprendizados. Isso pode garantir mais oportunidades de sucesso. Apesar dessa grata perspectiva, muitas pessoas estão sendo demasiadamente seletivas, enxergando apenas suas mancadas e ignorando as dicas e possibilidades de aprendizados. Essas recomendações servem para sinalizar que aquele comportamento não deve ser repetido ou precisa ser lapidado. Se você não está analisando adequadamente seus contextos, relações e respostas, provavelmente não está sendo assertivo (veja aqui). Experimente ser assertivo e fazer diferente! Você só tem a ganhar.