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Sua balada pode acabar mal – Você deve conhecer, ou no mínimo já ouviu falar, da banda Psirico, do vocalista Márcio Victor. Mesmo que você – como eu – não acompanhe de forma íntima o trabalho da banda, deve concordar que é praticamente impossível viver no Brasil e ficar imune a essa febre. O grupo é detentor de vários títulos de hits da música baiana. Alguns deles merecem aplausos, pois ressaltam em suas canções o orgulho à raça negra, às origens do povo humilde, à diversidade, além de algumas que procuram quebrar vários estereótipos e estigmas, a exemplo do que parece ser a proposta da música “toda boa”.
Dentre as canções de sucesso da banda está a música “lepo-lepo”, que, em 2014, explodiu em todo o Brasil e se popularizou no mundo, especialmente pela ocasião da Copa do Mundo de Futebol da Fifa, realizada no ano passado. Parece que a partir dali as músicas do grupo deram uma destoada e uma nova música da banda que, ao que parece, vem sendo bastante executada me chamou a atenção. A música chama-se Tem Xenhenhém e um trecho da música diz “A minha balada só acaba quando a cachaça termina, quando o dj vai embora, quando eu arrasto uma mina”. Parece algo inofensivo, mas vou aproveitar a música e tentar algumas reflexões com você.
Balada psicólogo em salvador terapia de casal
Na psicologia comportamental, nós psicólogos entendemos que uma das possibilidades de formação de personalidade, adoção de comportamentos e novos estilos de vida vêm das regras postas diretas e indiretas, explícitas e implicitamente em nossa cultura. Por exemplo, as religiões, os dogmas, leis, e normas de conduta em nossa sociedade dizem que muitos comportamentos são pecados ou errados e, muito por isso, abraçamos essas filosofias ou ideias e formamos nosso estilo de vida, nossos valores, nossas auto-regras e nossa referência de comportamento moral.
Nesse contexto, não é novidade que o momento da nossa vida em que estamos formando nosso caráter, elegendo nossas referências e buscando nossas formas e ferramentas de auto afirmação na sociedade é na adolescência. É justamente por essa faixa etária que é formado, majoritariamente, o público da Banda Psirico, do Márcio Victor. E foi exatamente isso que me deixou reflexivo sobre o que diz a essência da música Tem Xenhenhém.
Sabemos que nossos jovens vem tendo uma relação cada vez mais exacerbada com drogas como o álcool. É cada vez mais comum eles conviverem com o hábito da bebida e, também por conta disso, terminam experimentando muito precocemente os problemas causados por esse comportamento, a exemplo da falta de controle emocional, atitudes socialmente inadequadas, acidentes e diversos casos de violência, especialmente no trânsito.
Anteriormente, num post aqui do blog falei que o álcool, dentre tantos efeitos, também funciona como um catalisador que diminui a censura para uma série de desejos, fantasias e emoções recalcadas da pessoa, ou seja, muito daquilo que a pessoa gostaria de ser ou fazer é precipitado a partir da bebida alcoólica.
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Sabemos também que é na adolescência que os hormônios sexuais estão a todo vapor e é nesta fase que muitos jovens estão repletos de curiosidades, em relação ao sexo, dúvidas e pressão por uma (ou a primeira) experiência sexual. Mas o que tudo isso tem a ver com a música do Psirico? Parece que tudo, não?
Se somarmos alguns elementos como:
(1) a influência das referências culturais e sociais na formação dos nossos comportamentos, caráter e personalidade;
(2) a fase da vida em que as pessoas estão mais propensas ou vulneráveis para influências em seus comportamentos e
(3) um ídolo que dá ao seu público um modelo explícito de comportamento a ser seguido,
Ou seja, dentre outros fatores, podemos entender que podemos estar pondo um vulcão em atividade e que este tem dado sinais de uma catástrofe social ainda maior.

Causas e consequências na Balada

No geral não é tão fácil para as pessoas em nossa sociedade relacionar consequências às causas, mas muitos dos comportamentos que trazem problemas à nossa sociedade vêm de legitimações como essa: “A minha balada só acaba quando a cachaça termina, quando o dj vai embora, quando eu arrasto uma mina”. Logo, enquanto tiver bebida ou então uma “mina” não for arrastada, o evento, a balada ou a festa não deve acabar.
Pensando nisso, talvez não seria surpresa se descobríssemos que uma pessoa alcoolizada, numa situação dessas acima, entendesse que a “mina” deva ser “arrastada” ainda que contra sua vontade, apenas para cumprir uma regra legitimada por músicas como a aqui exemplificada.
Para se ter ideia, em 2013, foram registrados mais de 50 mil casos de estupro no Brasil, segundo dados do 8º Anuário Brasileiro de Segurança Pública divulgado pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública.
Não estou responsabilizando exclusivamente a música pelos comportamentos inadequados de muitas pessoas. No entanto, penso que devemos buscar as raízes dos nossos comportamentos e aqui parece que pode estar um fio da meada que nem todos pensam em puxar. E você, o que acha?

Elídio Almeida

Psicólogo em Salvador, formado pela Universidade Federal da Bahia (UFBA) e especializado em Terapia de Casal e Relacionamentos (CRP). Possui também pós-graduação em Psicologia Clínica pela Universidade do Estado da Bahia (UNEB). Dedica-se à prática clínica, oferecendo acompanhamento terapêutico a casais, famílias e atendimento individual para adultos. Além disso, ministra cursos e palestras na área.

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