Atendendo a mais um pedido de uma leitora do blog, o post de hoje é para falar sobre as causas da depressão em jovens. Desde já, quero agradecer a leitora que me escreveu um e-mail fazendo o pedido, pois realmente é um tema bastante relevante, que tem tido procura constante no meu consultório. Certamente, poderá também ser útil para outras mães que, por ventura, estejam vivendo situação semelhante.
Antes de qualquer coisa, quero destacar que a depressão em jovens não é muito diferente da depressão em outras fases da vida, como na fase adulta ou velhice, por exemplo. Também merece destaque o fato das causas da depressão variarem de pessoa para pessoa, independente da fase do desenvolvimento em que ela se encontre, ou seja, a depressão não tem relação exclusiva com a faixa etária. Porém, em cada período, existem algumas causas que são mais comuns, e é desse padrão da fase adolescente e do início da vida adulta que falarei aqui neste post, com a ressalva de que não necessariamente o que for dito aqui corresponderá a realidade de todas as pessoas, reforçando que cada caso deve ser analisado particularmente por profissional qualificado no tema. Combinado? Ok. Então, vamos lá.
Diagnosticar e tratar a depressão é tarefa do especialista.
Muita gente, seja leigo ou profissional, costuma analisar um caso ou fazer um “diagnóstico” de depressão pegando a patologia e encaixando-a na pessoa. Isso é inadequado e muito injusto, pois alguns traços da depressão são comuns a muitas outras patologias e estados emocionais, o que pode levar a uma rotulação ou a um erro fatal. O legal é sempre procurar compreender o contexto da pessoa que apresenta sintomas ou tendências à depressão (considerando o máximo de possibilidades e variáveis possíveis). Também levar em consideração o caso propriamente dito, as possíveis causas e elementos de manutenção para – a partir do entendimento geral da situação e da patologia – verificar as correspondências entre um e outro. Ou seja, entre o comportamento apresentado e as características da patologia.
É muito comum vermos mães, por exemplo, pegarem todos os sintomas popularmente conhecidos de uma patologia como a depressão e irem em busca dos sintomas no filho. Para tristeza dos jovens, elas sempre encontram muitas características semelhantes e são taxativas no “diagnóstico”: “Meu filho tá com depressão”. Por isso é sempre importante irmos com prudência e parcimônia, lembrando que, para o diagnóstico adequado, qualquer pessoa com suspeita de depressão ou qualquer outra doença deve ser avaliada por um profissional habilitado na questão. No caso da depressão, por um médico ou psicólogo.
A depressão em jovens
Não podemos, nesse nosso caminho para compreender as causas da depressão em jovens, deixar de considerar as peculiaridades das fases da juventude. Nós que já passamos por elas devemos recordar quão conturbadas e complexas são essas fases, não é verdade?
É na adolescência e início da vida adulta que muitos jovens começam a ter seus primeiros conflitos existenciais mais latentes, são nelas que geralmente vem a descoberta e (ou tentativa de) experimentação da sexualidade, surgem os conflitos de ser aceito pelos demais, os questionamentos do que ser ou o que fazer na vida pessoal e profissional, vem a necessidade quase que vital de possuir um Iphone, de adoração às marcas, as paixões, a necessidade cada vez maior de grana, vestibular, trabalho, selfies, redes sociais, bandas, gritos, birras… Ufa! Complexo mesmo, não é verdade?
Pois é, se já foi difícil viver isso no passado, imagine nos tempo atuais, onde o isolamento social é uma realidade. Os jovens são cada vez mais vulneráveis às influências culturais, sociais e midiáticas, bombardeados com necessidades que nem sempre poderão saciar. Para se ter uma ideia, muitos dos jovens que frequentam os consultórios de psicologia sentem-se inadequados diante da sociedade que tanto lhes cobra posturas, atitudes e, principalmente, bens materiais que não estão ao alcance da maioria. Somente depois de considerar e entendermos esses contextos e relações é que podemos adentrar no campo patológico da depressão.
Há, no campo científico, muitas classificações para a depressão. Entretanto, o primeiro critério recomendado é verificar se o paciente É ou ESTÁ deprimido. Acredite, isso por si só já pode dar a tônica ao olhar sobre o paciente e, consequentemente, sobre o tratamento.
De forma geral e sucinta, a depressão é uma doença que afeta drasticamente nosso repertório comportamental, com a queda drástica do humor, comprometimento da autonomia cognitiva, excesso de pessimismo, desinteresse pelas ações cotidianas e rotineiras, expressiva diminuição dos comportamentos e relações sociais, fortes tendências ao isolamento, presença de comportamentos agressivos, revoltas, além de completa desesperança em todos os aspectos da vida. Para confirmar o diagnóstico de depressão, cinco ou mais sintomas relacionados ao transtorno (veja abaixo) devem estar presentes no repertório comportamental do paciente. Dentre eles, um é obrigatório: humor deprimido ou falta de motivação para as tarefas diárias há pelo menos duas semanas.
Talvez para minha leitora ou para você que está lendo esse meu texto agora, tudo isso sobre depressão não seja novidade. Se isso for verdade, quero apresentar aqui um ponto que considero extremamente importante. Muita gente tem exagerado nos olhares para o próprio filho ou nos diagnósticos de um paciente. Parece que vivemos numa época e num mundo onde ninguém pode mais ficar triste ou melancólico. É como se todos, mesmo diante de episódios aversivos, contextos confusos – como são a adolescência e a juventude -, mesmo quando não conseguem deixar de ser “BV” (boca viagem), quando um jovem não consegue arrumar um namorado ou namorada, não saber que profissão terá no futuro ou, até mesmo, não conseguir desenvolver relações sociais adequadamente, dentre tantos outros fatores, devessem ficar felizes, soltando fogos de alegria. E bem sabemos que não é bem assim, não é verdade? Vamos com calma com tudo isso para não cometermos injustiças e acabar rotulando um jovem com uma patologia, quando, na verdade, ele está vivendo um processo delicado e pode sim estar precisando de ajuda, mas não de um rótulo ou uma patologia que só vão piorar a situação, e aí, sim, pode surgir a DEPRESSÃO.
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Forte abraço a minha leitora, espero ter esclarecido ao menos um pouco de um tema tão amplo, complexo e preocupante. Se você também tem alguma dúvida sobre a terapia comportamental, pesquise as publicações já feitas aqui no blog. Se não encontrar, ficarei feliz se puder escrever algo ou responder sua solicitação.