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Veja um bate-papo que o psicólogo Elídio Almeida teve com a jornalista Suzane Ferreira, para o portal Uol Jovem. Elídio que é psicólogo e Terapeuta de Casal em Salvador, falou sobre assertividade e bullying.

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Qual é a importância da assertividade em crianças e jovens?

Cada pessoa tem o direito de expressar seus sentimentos, emoções e preferências, de forma a sentir-se bem por fazer isso e sem ferir outras pessoas neste processo. O comportamento que torna a pessoa capaz de expressar sentimentos sinceros, sem ansiedade indevida ou timidez, exercitando seus próprios direitos; reconhecendo e respeitando os diretos das demais pessoas, é denominado de comportamento assertivo. Comportar-se assertivamente é, sem dúvida, um dos grandes desafios do mundo contemporâneo e está presente em todos os ambientes, grupos e relações.

Por isso, o quanto antes as pessoas adquirirem habilidades assertivas, maior sua probabilidade em ter sucesso nas relações interpessoais; seja na vida pessoal ou profissional.

Se considerarmos que é a partir da infância que apendemos a construir nosso repertório, preferências, identidades e, principalmente, a conviver com pessoas que também estão passando pelo mesmo processo, veremos que, desde a infância, estamos envolvidos em situações em que precisamos firmar nossas escolhas e lidar com as diferenças e escolhas alheias.

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Essa situação torna-se ainda mais complexa para crianças e jovens que estão inseridos em grupos nos quais a expressão desses sentimentos e emoções carrega uma certa competitividade, como é o caso da escola. Daí a importância da assertividade, pois,  em uma situação na qual qualquer diferença entre os alunos venha a ser pontuada, eles poderão exercitar a expressão do comportamento assertivo, em detrimento dos comportamentos agressivos, comumente praticados entre crianças e adolescente nos ambientes escolares.

Como diferenciar para a criança a assertividade da agressividade?

Todo comportamento possui uma intenção ou objetivo, ainda que inconscientemente. Se observarmos atentamente, veremos que as crianças também percebem e sabem disso, pois é um comportamento que se repete com bastante frequência e, muitas vezes, os adultos fornecem o modelo para isso.

Assim, os comportamentos agressivos e assertivos são diferenciados de acordo com o propósito a que se destinam. Por exemplo, uma pessoa pode se dirigir a outra dizendo: “Pois não, querida!”. Observe que este “querida” pode ser entendido de duas formas: irônica (agressiva) ou acolhedora (se for assertiva). Por isso, considero que a melhor forma de diferenciar estes comportamentos seja desenvolvendo e conscientizando as crianças a identificar as funções comportamentais (mostrando todas as possibilidades possíveis), não se limitando auma análise superficial dessas ações e expressões.

Dessa forma, as crianças poderão adquirir a habilidade de identificar a intenção ou o objetivo do comportamento dirigido a elas e escolher a resposta mais adequada, preferencialmente uma resposta assertiva.

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Como desenvolver a assertividade na escola? E no ambiente familiar?

Há uma infinidade de recursos para isso. Basta que os educadores utilizem a criatividade e a imaginação para desenvolver ações que habilitem as crianças e adolescentes a identificar as funções dos comportamentos e, a partir daí, escolham a resposta mais adequada a ser empregada na ação.

Gosto muito do modelo em que o diálogo entre os envolvidos privilegia a contextualização da questão e a expressão da emoção por uma das partes, possibilitando que haja oportunidade para que a outra parte também contextualize a ação e expresse sua emoção; para que tentem compreender e se posicionar adequadamente e com mais propriedade na situação. Por exemplo:

– Hoje, quando lhe chamei e você respondeu “pois não, querida!”, tive a impressão que você foi irônica comigo. Foi isso mesmo?

– Não. Na verdade eu estava chateada com algo que aconteceu comigo a caminho da escola, não teve nada a ver contigo. Não tive essa intenção, desculpe se pareceu um tratamento irônico.

– Ufa! Já estava prestes a achar que tinha magoado você em algum momento.

Observe que nesse pequeno diálogo o sentimento foi expressado, ajudando a contextualizar a percepção e os fatos.

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Claro que esse estágio de assertividade nos diálogos pode ser construído e mantido em relações bem anteriores a chegada da criança à escola. Na família, por exemplo, os pais devem ficar atentos para dosar e valorizar as primeiras expressões emocionais dos filhos.

Em muitos casos as crianças são punidas por terem falado o que pensavam ou sentiam. Ainda que essas expressões sejam inadequadas elas devem ser instruídas quanto as consequências destes comportamentos para que as crianças possam optar em não repetir novamente. Quando são somente punidas, elas podem aprender que falar o que pensa/sente é errado e isso pode abrir brecha para muitas dificuldades no convívio com outras pessoas e nas relações interpessoais. Em outras palavras, a assertividade é uma habilidade adquirida, principalmente, em função das próprias experiências acumuladas ao longo da vida.

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Que tipo de exercícios sociais podem ser feitos para desenvolver esta habilidade?

Primeiramente devemos compreender os princípios básicos da asserção para diferenciar os comportamentos assertivos dos agressivos, através do objetivo em que a ação foi empregada. A partir daí, é somente procurar expressar de forma fidedigna a emoção ou sentimento, tendo o cuidado constante de não ferir a pessoa para a qual o comportamento é dirigido. Ajuda bastante quando:

  • conseguimos olhar diretamente nos olhos da pessoa com quem estamos falando;
  • ter uma postura corporal confortável e segura;
  • emitir gestos amistosos ;
  • ter uma expressão facial coerente;
  • usar um tom de voz apropriado;
  • escolher a ocasião adequada
  • fazer um planejamento do conteúdo a ser abordado pode contribuir para o sucesso da ação;
  • praticar estes passos constantemente;
  • refletir sobre as consequências da ação implementada para facilitar o sucesso da assertividade.

No consultório e na orientação dos jovens no processo de desenvolvimento de habilidades assertivas, tenho tido resultados bastante significativos, propiciando a aproximação destes com instrumentos como a Declaração Universal dos Direitos Humanos, Estatuto da Criança e do Adolescente, Código de Defesa do Consumidor e Estatutos e Regimentos de escolas e outras entidades. Com isso, eles sentem se mais conhecedores dos seus direitos e deveres, tornam-se mais confiantes e empoderados para o exercício da sua cidadania; expressando melhor seus sentimentos e emoções.

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Como a assertividade pode auxiliar a criança a combater o bullying?

O bullying se instala por meio de uma condição que chamamos de comportamento inassertivo (ou passivo). O comportamento inassertivo é aquele em que a pessoa não consegue expressar seus sentimentos e emoções, sente-se inferior, incapaz, fraca, tem extrema dificuldade em dizer “não”, vive cheia de inibições, cedendo à vontade alheia, tem autoestima baixa, guarda seus desejos dentro de si, tende a pensar na resposta adequada somente depois que a oportunidade passou. Também, normalmente, se autodeprecia, preferindo calar-se, retirar-se ou isentar-se a ter que se posicionar diante das demais pessoas.

Observe que essas características são completamente antagônicas à assertividade e à agressividade. Ou seja, quando a pessoa não consegue se defender, ela mesma pode abrir o precedente para que outras pessoas abusem dela ou desrespeitem seus direitos. E é justamente nesse ponto que alguém com a intenção de agredir, humilhar ou diminuir outra pessoa encontra terreno para imprimir os comportamentos agressivos. Dessa forma, a criança ou adolescente que tem um histórico de prática da assertividade em sua vida pode passar por esse tipo de exposição com menos sofrimento, pois ela consegue fazer valer seus direitos, inclusive recorrendo a ajuda de terceiros, quando for o caso. Tudo isso sem enfrentar os medos e ansiedades indevidas comuns a este tipo de situação.

E no caso da criança já sofrer ou ter sofrido bullying, como agir para que isso não se repita?

A criança ou adolescente que sofreu ou sofre com o bullying deve aprender que tem direitos e dentre eles, que deve ser ouvida, respeitada e amparada em suas necessidades. Talvez o mais importante a ser feito para que males como o bullying não se repitam ou se propaguem é formar cada vez mais cidadãos e profissionais habilitados e comprometidos a identificar as mais sutis manifestações desse comportamento altamente danoso ao bem estar da nossa sociedade e à formação, desenvolvimento e convivência das pessoas.

Assim, poderíamos agir preventivamente e evitar o sofrimento que impera em muitos ambientes. Uma dica que costumo passar é que sempre devemos ter em vista que as pessoas são diferentes, independente se for criança, adolescente, adulto, aluno, professor, juiz, médico… reconhecer a outra pessoas como diferente, exercitar a empatia e nos colocar sempre no lugar da outra pessoa, significa que não iremos impor à ela e a suas ações, causando-lhe sofrimento. Isso pode nos propiciar melhores condições não só para compreendê-la, mas também para ajudá-la.

Elídio Almeida

Psicólogo em Salvador, formado pela Universidade Federal da Bahia (UFBA) e especializado em Terapia de Casal e Relacionamentos (CRP). Possui também pós-graduação em Psicologia Clínica pela Universidade do Estado da Bahia (UNEB). Dedica-se à prática clínica, oferecendo acompanhamento terapêutico a casais, famílias e atendimento individual para adultos. Além disso, ministra cursos e palestras na área.

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