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“Pense num absurdo, na Bahia em precedente!’ Essa frase icônica é do ex-governador da Bahia, Otávio Mangabeira. Embora tenha sido dita pela primeira vez há mais de cinco décadas, seu uso ainda expressa fidedignamente situações do cotidiano tanto da Bahia quanto do mundo. Nesse sentido, o título desse post pode ter lhe causado estranheza (ou até mesmo interesse). Contudo, a boa (ou má notícia) é que o curso para encontrar um par romântico não é (ainda) oferecido por uma faculdade baiana. Porém, claro, há precedentes. 

Faculdade chinesa oferece curso com o intuito de preparar os jovens para encontrar um par romântico
Faculdade chinesa oferece curso com o intuito de preparar os jovens para encontrar um par romântico

Com o intuito de ajudar jovens a conseguir uma namorada, uma Universidade da China lançou um curso inusitado. Chamado de “Teoria e prática das relações amorosas“, visa preparar os alunos para encontrar um par romântico. Além de aulas práticas os alunos têm direito a diploma (veja). Sucesso absoluto, já no lançamento, a primeira turma teve mais 800 inscritos.

Talvez isso seja novo por lá, porém, aqui na Bahia já é assunto velho. Isso porque, em 2014, uma sexóloga lotou por várias semanas consecutivas um auditório na capital baiana. Nele, acontecia um curso para ensinar às mulheres técnicas de sedução. À época, um vídeo com um trecho da aula vazou, circulando bastante pelas redes sociais, enfatizando a importância o sexo oral, que era apresentado às participantes como uma ferramenta de sedução. Uma vez que miséria pouca é bobagem na Bahia, houve uma edição do curso para os homens. O objetivo: ensiná-los a fazer sexo oral. 

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Por que algumas pessoas precisam de curso para aprender a criar um relacionamento?

Encontrar um par romântico não tá fácil pra ninguém.

De início, cabe refletir sobre os motivos pelos quais uma faculdade chinesa propõe um curso de paquera. Sob tal ótica, é inevitável considerar a história e cultura daquele lugar. A China é um país superpopuloso, com 1,4 bilhão de pessoas. Não obstante, entre os anos de 1970 e 2015, o país viveu a política do filho único. Nesse regime, havia nítida preferência para o nascimento dos meninos. Ademais, esse fato gerou, dentre outras consequências nefastas, uma proporção descomunal entre os gêneros. Hoje, a China possui 34 milhões de homens a mais que mulheres.

O Brasil, no entanto, nunca viveu uma política tão rígida de controle de natalidade. Ao contrário. Momentos recentes da história mostram incentivos, inclusive financeiros, para que a população gere mais filhos. Um exemplo disso é a chamada taxa variável do programa Bolsa Família. Em função dela, a retirada financeira da família aumenta proporcionalmente conforme o número de crianças e adolescente no domicílio (fonte). Já no aspecto cultural, o solo verde amarelo é visto como o país do carnaval, da malemolência e do gingado. E como a história não nega, tudo isso nasceu na Bahia.

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No tocante às dificuldades para formar relacionamentos, alguns brasileiros e chineses têm similaridades.

Dito isso, não tenho dúvidas que caso alguma faculdade brasileira lance (oficialmente) um curso com a finalidade de ajudar as pessoas a encontrar um namoro, fará um enorme um sucesso por aqui. Afinal, mesmo com tamanhas distinções culturais entre o Brasil e a China, parece haver um fator comum entre elas: a dificuldades para construir relações interpessoais. Ocorre que mesmo com tamanha desenvoltura, é justamente aqui que surgem precedentes como os cursos que se propõe a ensinar homens e mulheres a conquistar um par romântico. Assim, o absurdo não é o curso em si, mas a necessidade dele.

A necessidade de curso para se relacionar com o outro

O modo de viver das pessoas na sociedade mundial é, sem dúvida, cada vez mais solitário. Isso ocorre tanto no Brasil como em qualquer parte mundo. Assim, o número de pessoas que cresce com o mínimo contato interpessoal e social é cada vez mais alto. Tal preocupante ocorrência independe de regimes anti-natalistas ou de culturas cuja a liberdade, em tese, faz parte do desenvolvimento pessoal.

As pessoas crescem e vivem em ambientes com pouca interação social. Isso dificulta a formação de relacionamentos amorosos.
As pessoas crescem e vivem em ambientes com pouca interação social. Isso dificulta a formação de relacionamentos amorosos.

Portanto, viver trancado em minúsculos apartamentos, privado de interação físico-social é altamente danoso à maturidade sentimental das pessoas. Não por acaso, variáveis como essa estão entre as causas de existir tanta gente sem habilidade e despreparada para construir relações. Especialmente, no que tange aos relacionamentos amorosos. Por conseguinte, surgem pessoas e instituições apresentado cursos a fim de sanar essas graves lacunas no desenvolvimento dos indivíduos. 

Se a Bahia tem precedente para tudo, inclusive para ensinar aquilo que o ser humano já nasce apto a exercer, por que não existir curso para encontrar um par romântico? Afinal, aquilo que não é aprendido ou desenvolvido de forma natural pode ser implementado por meio de cursos. De mais a mais, aqui e no mundo, não falta demanda para essa questão. Em contrapartida, as pessoas que vivem neste modelo de sociedade doentia precisam mais que aulas: é necessário alterar a gene de tamanhas incapacidades sentimentais e afetivas.

Elídio Almeida

Psicólogo em Salvador, formado pela Universidade Federal da Bahia (UFBA) e especializado em Terapia de Casal e Relacionamentos (CRP). Possui também pós-graduação em Psicologia Clínica pela Universidade do Estado da Bahia (UNEB). Dedica-se à prática clínica, oferecendo acompanhamento terapêutico a casais, famílias e atendimento individual para adultos. Além disso, ministra cursos e palestras na área.

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