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Diante da pandemia provocada pelo novo Coronavírus, governos e população têm adotado diversas medidas no intuito de conter disseminação do Covid-19. De forma geral, as recomendações das autoridades sanitárias instruem as pessoas a higienizar bem as mãos, manter distância segura umas das outras, evitar aglomerações e, especialmente, não entrar em pânico. No entanto, o cenário posto pela doença, revela – especialmente entre os brasileiros – um comportamento que tem chamado a atenção: pessoas estão estocando alimentos, luvas, álcool em gel, máscaras e até mesmo papel higiênico.

Assim, algumas perguntas se fazem necessárias: 

  • Por que as pessoas estão adquirindo tanto papel higiênico se esse item não é essencial no combate e prevenção da doença?
  • Qual seria a relação dessa corrida para estocar papel higiênico com a pandemia?

Embora aparentemente sem lógica, o gesto de estocar papel higiênico em momentos como este é praticado por milhares de pessoas. Além disso, há um “efeito manada” nessa prática, especialmente estimulado pelas redes sociais. Afinal, a cada instante brota nos feeds das plataformas memes com flagras de prateleiras vazias e carrinhos de supermercado abarrotados de papel higiênico.

Mas, afinal, o que leva as pessoas a estocar papel higiênico? Considerando que tal prática é desconexa das recomendações de prevenção ao Coronavírus, deve haver alguma explicação psicológica para esse fato. Vejamos.

Compras motivadas pelo pânico

No livro “A psicologia das Pandemias” (The Psychology of Pandemics), o autor Steven Taylor lança algumas proposições às questões das compras motivadas pelo pânico. Segundo o autor, estocar suprimentos em momentos de tensão e desespero é comum entre os humanos. Tal comportamento também aconteceu em outras pandemias ao longo da história da humanidade, contudo, foram pouco documentados. Esse cenário significa que a percepção de exagero atual se deve, em muito, aos registros feitos a partir dos smartphones. De maneira idêntica, há a contribuição da viralização destes conteúdos nas redes sociais. Ou seja, a tentativa de abastecer a casa em momentos críticos não é algo novo. Na verdade, este comportamento sempre existiu e pode está sendo visto pela lente de aumento das redes sociais. 

estocar papel higiênico psicólogo Elídio Almeida explica
Estocar papel higiênico está associado às ideias de precaução, segurança e sobrevivência.

Embora as autoridades salientem que não há necessidade de estocar nada nesse momento, o “instinto de sobrevivência” tem falado mais alto. Dessa forma, é cada vez mais maior a corrida às farmácias para adquirir itens essenciais como: máscaras, álcool em gel e luvas. O mesmo ocorre em relação aos supermercados. Nesses ambientes, as pessoas estão ávidas por adquirir e armazenar alimentos e papel higiênico. Prática esta sustentada pelas ideias de precaução, segurança e sobrevivência. A partir desse contexto, torna-se compreensível perguntar: afinal, qual a relação do papel higiênico com a COVID-19?

O significado do papel higiênico nos momentos de pânico

Fotos que viralizam nas redes sociais dão conta de que muitas pessoas estocando papel higiênico. Este fato curioso não tem nenhuma relação direta com a prevenção e os cuidados necessários no combate ao Coronavírus. No entanto, existe uma explicação psicológica para isso, conforme destaca Taylor, no livro supramencionado.

“O papel higiênico virou um símbolo de segurança, embora não vá impedir que as pessoas sejam infectadas pelo vírus. Mas quando as pessoas ficam sensíveis a infecções, aumenta a sensibilidade delas para o que é nojento. É um mecanismo para nos proteger de patógenos”. 

Assim, o papel higiênico é visto, como um instrumento para evitar coisas nojentas. Desse modo, consciente ou inconscientemente, o papel higiênico deixa de ser um item comum de higiene pessoal. Dito de outro modo, diante de situações de ansiedade e pânico ele é alçado a símbolo supremo de segurança. Tudo isso, por um efeito de ilusória armadilha psicológica, que se traduz numa sensação de conforto emocional.

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Pandemia impulsiona compras de papel higiênico motivadas pelo pânico

Ademais, é importante destacar que em momentos de estresse as pessoas, naturalmente, ficam mais ansiosas. Tal fator preocupante contribui significativamente para que todo tipo de excesso ocorra. São exemplos desses exageros:

  • os equívocos na percepção dos problemas enfrentados em decorrência da pandemia, como o próprio pânico em si;
  • a vulnerabilidade e adesão às fakes news;
  • sensação de insegurança e ansiedade;
  • e os exageros na compra de itens não relevantes ao caso, como papel higiênico.

Seja sensato!

O COVID-19 é um vírus de alta periculosidade e sobre ele sabe-se muito pouco. Justamente por isso, as recomendações sanitárias e psicológicas devem ser seguidas à risca:

  • evite beijos, abraços e aperto de mão.
  • cubra o rosto quando for tossir ou espirrar.
  • evite tocar o rosto.
  • mantenha distância física segura das pessoas.
  • cuide da higiene pessoal.
  • lave bem as mão com sabão e água corrente (muito melhor que álcool em gel).
  • evite aglomerações e locais de grande fluxo de pessoas.
  • lembre-se que os idosos são mais vulneráveis, por isso tenha responsabilidade no convívio com eles.
  • procure manter a tranquilidade e não entrar em pânico.
  • cuide da sua saúde emocional, escolha fontes confiáveis para informação e não dê audiência às fakes news.

Por fim, não caia armadilhas psicológicas como a falsa sensação de segurança dada por fardos de papel higiênico estocado em casa. Para combater o coronavírus, é necessário atitudes práticas e relevantes, a exemplo das ações listadas acima.

Elídio Almeida

Psicólogo em Salvador, formado pela Universidade Federal da Bahia (UFBA) e especializado em Terapia de Casal e Relacionamentos (CRP). Possui também pós-graduação em Psicologia Clínica pela Universidade do Estado da Bahia (UNEB). Dedica-se à prática clínica, oferecendo acompanhamento terapêutico a casais, famílias e atendimento individual para adultos. Além disso, ministra cursos e palestras na área.

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