A Sexomnia é um tipo de sonambulismo. Como você já deve saber, sonâmbulo é aquela pessoa afetada por um transtorno do sono que a leva a emitir alguns comportamentos enquanto está dormindo.
Normalmente, elas apenas levantam da cama e dão alguns passos pelo quarto ou pela casa. No entanto, outras pessoas acometidas por esse transtorno podem praticar ações bem mais complexas, chegando até a ter relações sexuais. A pessoa que mesmo dormindo tem comportamentos sexuais possui um distúrbio que é conhecido como sexomnia ou sonambulismo sexual.
Os distúrbios do sono e a Sexomnia.
Há vários distúrbios relacionados ao sono. Insônia e sonambulismo são os fenômenos mais conhecidos, mas não estão sozinhos. Existem outras subcategorias bem menos divulgadas. O terror noturno e a sexomnia são exemplos delas.
No terror noturno, a pessoa grita e aparenta estar aterrorizada enquanto dorme. Na sexomnia, ela, mesmo dormindo, tem comportamentos sexuais. Pode até consumar uma relação, mesmo não tendo consciência do que está fazendo.
Qualquer distúrbio no sono oferece desconforto e riscos ao paciente ou a terceiros. Por isso, é importante conhecer cada fenômeno e suas consequências para que sejam adotadas as medidas terapêuticas e preventivas mais adequadas. Nesse sentido, a percepção do paciente, parentes e amigos ajuda na compreensão dos comportamentos do sonâmbulo. Mas é fundamental que haja um diagnóstico preciso do caso.
O diagnóstico apropriado é feito em hospitais e clínicas específicas, por meio do estudo das ondas cerebrais do paciente. Em casos positivos, os exames revelam um comportamento neurológico muito distinto dos estados normais de sono ou vigília. O paciente aparenta estar acordado e dormindo em sono profundo ao mesmo tempo. Ou seja, a pessoa parece estar acordada, mas não está. Isso é identificado pelas ondas cerebrais reveladas nos monitoramentos clínicos.
Exames e estudos revelam que as partes do cérebro que controlam a visão, o movimento e a emoção parecem estar acordadas. Entretanto, as áreas relacionadas à memória, à decisão e ao pensamento racional continuam em sono profundo. Pessoas nesse estado podem falar, caminhar, comer, cozinhar, dirigir e até fazer sexo sem ter consciência ou memória do ocorrido.
Relações sexuais praticadas durante um distúrbio do sono como a sexomnia poderiam ser classificadas como estupro?
A questão é polêmica, mas precisa ser debatida. Especialmente pelas pessoas que convivem com a situação.
Às vezes, deparo com situações desse tipo em meu consultório. Durante as sessões de psicoterapia, ouço relatos de homens e mulheres que se queixam de serem surpreendidos durante o sono por seus parceiros ou parceiras em plena atividade sexual (ou tentativa). Muitas dessas pessoas, especialmente as mulheres, sentem-se estupradas ou violentadas por seus parceiros.
Tais ocorrências costumam gerar muitos desentendimentos e ocasionam sérios problemas à relação do casal. A situação é confusa para ambos. Por isso,deve ser debatida.
Sexomnia seria desejos recalcados?
Em algumas vertentes da Psicologia, os comportamentos atribuídos à sexomnia são sinônimos de desejos reprimidos e recalcados que a pessoa manifesta durante o sono. Nessa perspectiva, um homem que está sobre a contingência de um forte desejo sexual refreado pode praticar tais comportamentos, mesmo que não faça isso conscientemente.
Ainda que essa lógica difundida em algumas correntes da Psicologia possua alguma relevância, é necessário considerar o ponto de vista científico e fisiológico dos comportamentos humanos. Como vimos acima, existem peculiaridades fisiológicas, químicas e orgânicas que influenciam a ocorrência de comportamentos específicos.
Para muitas pessoas, é mais fácil classificar uma abordagem sexual não consentida (nos moldes da sexomnia) como um ato de desrespeito, sacanagem ou mesmo um estupro. Cada caso deve ser visto de forma particularizada.
Estupro é crime. Disso ninguém tem dúvida. Mas será que uma pessoa que – comprovadamente – tenha um distúrbio do sono como a sexomnia deve ser classificada como estupradora?
A cada dia, tenho levado aos meus clientes novas perspectivas de análise dos casos que têm gerado conflitos em suas vidas. Por isso, sempre que deparo com relatos que sugerem sexomnia. Procuro – antes de adotar qualquer intervenção – descartar causas orgânicas para poder pensar em outras hipóteses. Somente dessa forma é que conseguimos separar o joio do trigo e tomar atitudes terapêuticas e preventiva responsáveis e adequadas. Como, na maioria das vezes, o casal não consegue analisar todos os fatores de forma coerente com o fenômeno, ajuda profissional deve ser sempre requisitada.
Conviver com distúrbios do sono é prejudicial. Porém, é mais danoso conviver com a dúvida e o silêncio. Informe-se e transforme-se.