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Segundo dados da OMS (Organização Mundial da Saúde), o Brasil tem o maior número de pessoas ansiosas do mundo. Estima-se que 18,6 milhões de brasileiros (9,3% da população) convivem com o transtorno. Apesar desse dado e do impacto que os quadros de ansiedade provocam, o tabu em relação ao tratamento ainda permanece. Na prática, boa parte dos ansiosos se vale de paliativos de pouca (ou nenhuma) eficácia para o combate efetivo dessa lamentável e recorrente enfermidade. Contudo, outras sequer se reconhecem como ansiosas.

ansiedade qual a diferença entre a ansiedade normal e a patológica Elídio Almeida psicólogo em salvador
18,6 milhões de brasileiros são ansiosos. Boa parte dessa população se vale de paliativos de pouca (ou nenhuma) eficácia para o combate ansiedade.

Ansiedade e Insegurança

Algumas pessoas  definem-se como ansiosas e não veem mal algum nisso. Para elas, a ansiedade é vista como um combustível que movimenta e dá sentido à vida. Esses pacientes, certamente possuem aquela ansiedade que não raro é vista como “normal”. Ou seja, é aquela emoção que antecede alguns episódios do dia a dia. Por exemplo: esperar uma pizza ou marcar um encontro com o namorado. Nesses casos, ainda que inconscientemente, tal doença psicossomática funciona como um veículo para “comunicar” e “previnir” algumas inseguranças. É como se seu cérebro pensasse:

  • Será que a pizza virá da forma que eu imaginei?
  • E se a pizza não vier, será que terei outra coisa para comer?
  • Caso meu namorado não venha, estarei segura aqui sozinha?
  • Meu namorado está demorando, será que ele gosta mesmo de mim?

Perceba que a ansiedade não é a causa, mas sim a consequência de um fator: a insegurança. Por isso, é equivocado dizer que a ansiedade é o problema raiz. Geralmente, ela é o sintoma que antecede possibilidades, de modo que seja possível se preparar para enfrentar determinadas adversidades. É por isso que a dupla insegurança-ansiedade estão sempre juntas. No entanto, infelizmente, nem todos veem dessa forma. Isso leva muitos a não se reconhecerem como “pessoas ansiosas“. 

como a aneidade projudica a vida das pessoas Elídio Almeida psicólogo em salvador
A ansiedade não é a causa, mas sim a consequência da insegurança.

A epidemia no Brasil

Conforme foi dito na seção anterior, conclui-se que todas as pessoas vivenciam algumas inseguranças no cotidiano. Logo, todos podem estar ansiosos em algum momento. Esse quadro transitório não é o que acomete os 18,6 milhões de brasileiros neste momento. Hoje, segundo a estimativa da OMS, 9,3% da população do país vive um nível de insegurança constante, o que leva ao quadro patológico da ansiedade. Para tal grupo, a insegurança vai muito além de uma pizza ou um encontro romântico. Muitos não têm:

  • segurança pública
  • proteção contra a violência
  • garantias ou perspectivas de futuro
  • alimentação básica

outros:

  • moram em áreas de conflito
  • estão doentes
  • solitários
  • temem o desemprego
  • estão afetivamente abandonadas
  • receiam não ter sucesso no relacionamento 

Desse modo, convivendo constantemente com toda ordem de insegurança, incontáveis brasileiros já vivenciam quadros crônicos de ansiedade. Nesse sentido, há algumas situações que – cruelmente  – fogem ao controle direto daqueles que são acometidos por essa enfermidade. Por exemplo, a questão da segurança pública. Todavia, em muitos casos é possível uma intervenção direta e pessoal. Em contrapartida, lamentavelmente, muitos optam por lidar apenas com o sintoma da ansiedade, em detrimento das eficazes intervenções na causa.

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O medo de envelhecer só causa temor em muitos adultos. Com isso, adotam atitudes equivocadas na construção dos relacionamentos.

Essa é uma atitude típica que pode ser ilustrada pela situação daquela pessoa que não quer “ficar para titia”. Isto é, refuta veementemente a ideia de viver sem um companheiro ou uma companheira. De maneira idêntica, também abomina fervorosamente a ideia de envelhecer sozinha. Assim, insegura e diante de tamanhas demandas, sempre opta por investir tudo na primeira oportunidade de relacionamento que surge. Em suma, enxerga e lida somente com o sintoma, quando deveria ser mais cuidadosa na escolha e no investimento afetivo, justamente para ter mais segurança do resultado. Algumas, contudo, ainda fazem isso de forma consciente, outras, sequer percebem como a nociva dupla ‘insegurança-ansiedade’ controla suas vidas. 

Aprendendo a se livrar da ansiedade

Viver ansioso é muito ruim, por isso tantos desejam livrar-se dela. A ansiedade é uma expressão do comportamental que deixa os enfermos mais sensíveis ao contexto. Assim, diante de episódios ou percepções de insegurança tentam, a qualquer custo, controlar o futuro. A questão é que grande parcela desse grupo é  imediatista e não planeja adequadamente as ações. Desse modo, com atos impulsivos e infrutíferos, a taxa de sucesso estará sempre em baixa, gerando mais ansiedade. A proposta solução invariavelmente passa por tentar intervir no presente de modo que haja melhores oportunidades de sucesso às questões temidas. Questões essa, como indicadas anteriormente, são sinalizadas pelas ansiedade.

ansiedade patológica afeta quase 10% dos brasileiros Elídio Almeida psicólogo em salvador
Adotar atitudes assertivas combate a insegurança e trata a ansiedade na raiz

Com isso, quero lhe dizer que devemos aprender a utilizar a ansiedade a favor do seu bem-estar e produtividade. Para isso, é fundamental reconhecer que as questões da ansiedade podem estar disfarçadas em vários aspectos da rotina. Assim, o ponto de partida deverá ser sempre a raiz das problemáticas. A partir daí, é fundamental ter posturas mais qualificadas e assertivas. Um bom começo para isso é evitar paliativos como alguns remédios (geralmente frutos da perigosa automedicação) que tratam apenas dos sintomas. Outra dica é adotar comportamentos que estejam voltados à solução eficaz da ansiedade. Por exemplo, desenvolver a habilidade de expressar adequadamente sentimentos e emoções, bem como lidar com as demandas de forma proporcional e no seu devido tempo. Assim, será possível evitar aquelas investidas rápidas, frágeis e ineficazes que te deixam preso num ciclo vicioso, controlado pela ansiedade. 

Elídio Almeida

Psicólogo em Salvador, formado pela Universidade Federal da Bahia (UFBA) e especializado em Terapia de Casal e Relacionamentos (CRP). Possui também pós-graduação em Psicologia Clínica pela Universidade do Estado da Bahia (UNEB). Dedica-se à prática clínica, oferecendo acompanhamento terapêutico a casais, famílias e atendimento individual para adultos. Além disso, ministra cursos e palestras na área.

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