Para entender por que é tão difícil expressar sentimentos e emoções, precisamos fazer algumas reflexões. Nesse sentido, cabe destacar que a sociedade apresenta-se hostil e cheia de regras. Assim, muito frequentemente, todos essas normas punitivas inibem a espontaneidade na expressão dos sentimentos e emoções. Não obstante, tais punições limitam a maneira pela qual as pessoas se comportam. Veja algumas:
- “é proibido fazer isso dessa maneira”
- “aqui não se deve fazer assim”
- “na nossa família nunca aceitaremos uma coisa dessa”
- “nessa empresa esse comportamento não é admitido”
- “você tem que agir de forma tal para ser respeitado(a)”
- “a posição que você ocupa não combina com esses comportamentos”
- “isso é coisa de homem, aquilo é coisa de mulher…”
Ao refletir sobre a força dessas expressões, você poderá compreender como o outro se sente. Isto é, ter seu comportamento reprimido diante de tamanhas regras e suas prováveis punições. Nesse sentido, podemos compreender a razão pela qual muitos têm dificuldades para expressar seus sentimentos e emoções. Afinal, diante de diretrizes tão rígidas, fica evidente que qualquer gesto diferente do padrão imposto será mal visto ou repreendido. Assim sendo, os regimes normativos excessivamente severos castram a espontaneidade das pessoas, gerando diversos prejuízos. Afinal, ditar parâmetros e apontar atitudes certas ou erradas, favorece o aumento da ansiedade. Além dos mais isso destrói gradativamente o potencial de iniciativa de qualquer pessoa. Esse modelo nocivo propicia uma série de atos preventivos, com o intuito de evitar as penalidades: a exemplo do comportamento inassertivo.
Cautela para expressar sentimentos
Ainda que implicitamente, a função de todas as regras sociais, organizacionais e dos relacionamentos visam influenciar no nosso modo de ser. Portanto, conviver num regime onde as leis são tão rigorosas, é altamente prejudicial ao bem-estar de qualquer pessoa. Isso ocorre de tal forma que aquele que esta sujeito a esse modus operandi pensará duas mil vezes antes de se posicionar. De forma similar, evita falar aquilo que pensa ou sente, deixando de expressar seu sentimentos e emoções livremente. De fato, tendo em vista os aspectos mencionados, reprimir-se não é um comportamento producente e precisa ser revisto com urgência.
Assim, ao recorre à cautela antes de externalizar seu modo de ver, pode implodir ou explodir. Em outras palavras, pensar tanto antes de falar o que pensa, não um ato de preventivo já que limita suas ações. Em consequência, tal postura representa que o contexto é inadequado, as relações são frágeis, superficiais e, principalmente, punitivas. Isso precisa ser mudado.
Desse modo, qualquer um pode a chegar ao ponto de implodir (a exemplo da depressão), por conter o que sente. Em contraste, há casos em que explosões agressivas são desencadeadas, justamente por atingir o ápice do silêncio acumulado. Seja como for, comumente tais impactos nocivos são rotulados equivocadamente como: “do nada ela explodiu!”. Na maioria das vezes esse “do nada” leva em consideração apenas um recorte superficial da questão. Porém, sabemos que geralmente apresentam-se como reflexos de longos períodos de emoções reprimidas.
Sentimentos e emoções afetados pela punição
Diante desse cenário de situações altamente rigorosas, o caráter punitivo é predominante na sociedade e nas relações. Por essa razão, abordar a dificuldade para expressar sentimentos e emoções é fulcral. Ou seja, direta ou indiretamente, a liberdade e a espontaneidade na expressão dos sentimentos são afetados devido ao rigor punitivo das condições postas em cada contexto ou relação. Tais atitudes são reprováveis e desencadeiam sérios prejuízos psicológicos aos envolvidos. Por isso, todas as normas rigidamente polarizadas entre o certo e o errado devem ser questionadas e relativizadas. Afinal de contas, essas dicotomias geram inseguranças e o receio do julgamentos punitivo.
Para ilustrar o que estamos discutindo, vamos a um exemplo. Digamos que uma jovem tenha comprado uma lingerie e um brinquedo erótico para usar com seu namorado. Ao apresentar as peças e a ideia, essa mulher ouve do parceiro uma série de piadas, gozações e ironias:
- “isso não é coisa para mulher séria!”
- “você não tem mais idade para isso.”
- “na minha casa, isso é inaceitável.”
- “como você espera que eu respeite uma mulher que usa uma coisa dessa?”
Diante dessa avalanche de insultos, a mulher se sente humilhada e repreendida por ter feito algo espontâneo. Dentre outras consequências, ela pode entender que não vale a pena falar o que sente. De maneira idêntica, associa que é errado ter iniciativas em benefício do seu prazer ou do relacionamento. Não obstante, tende a ficar traumatizada e limitada para novos planos. Tudo isso, pode ser irradiado para outros âmbitos de sua vida, exemplo dos convívio social e profissional. Ou seja, ela pode entender que nunca deve ter iniciativas e, dessa forma, ter sua vida comprometida. Justamente para que isso não aconteça, é importante que as pessoas sejam assertivas.
Como expressar sentimentos e emoções?
Expressar sentimentos e emoções numa cultura tão punitiva como a que vivemos é uma tarefa muito difícil. Todavia, a culpa não necessariamente seja nossa, visto que a sociedade se apresenta repleta de regras; pessoas intolerantes, punitivas e desrespeitosas com nossos sentimentos. Por essa razão, devemos estar preparados para não permitir que inibam nossa espontaneidade. Afinal, é com essa finalidade que devemos buscar sermos pessoas assertivas em nosso dia a dia.
Ser assertivo é, antes de tudo, pensar no contexto como um todo. Ou seja, devemos pensar nas consequências dos nossos comportamentos de modo a tomar atitudes mais consistentes e amplas. Por isso que a assertividade está relacionada a inteligência emocional. Dito de outra forma, trata-se de um comportamento que leva em consideração a questão em si, seus antecedentes e possíveis consequências para os envolvidos. Desse modo, é possível vislumbrar a ação que seja benéfica para todos. A partir do momento que pensamos no todo, bem como nos desdobramentos das situações, temos melhores condições de expressarmos sentimentos e emoções. Afinal, sabendo que externar aquilo que sentimos não é uma tarefa fácil, devemos tentar meios alternativos e eficazes para isso.
É por essa razão que sempre ofereço aos meus pacientes um momento para falarmos sobre assertividade durante a terapia. O método em questão ajuda a desenvolver habilidades para expressar os sentimentos e emoções de formas mais espontâneas. Isso auxilia na análise holística do panorama que os cerca, bem como contribui para dar mais qualidade às questões cotidianas por meio das intervenções terapêuticas. Em decorrência disso, os pacientes são preparados para lidar com mais tato e autoconfiança. Inegavelmente isso ajuda significativamente a lidar com as relações e com essa sociedade hostil e impositiva em que estão inseridos.