No livro “A Geração Ansiosa“, o psicólogo Jonathan Haidt discute como a vida hiperconectada está causando uma epidemia de transtornos mentais, especialmente ansiedade e depressão. Ao abordar a geração Z, pessoas nascidas entre 1995 e 2010, Haidt reflete sobre a importância de vivenciar o “custo de entrada” e “custo de saída” nas brincadeiras da infância. Esses processos são essenciais para o desenvolvimento e amadurecimento. Na vida adulta, contudo, muitos passam pelo dilema dos custos de entrada e saída dos relacionamentos amorosos. Compreender esses conceitos pode nos ajudar a entender como muitos homens e mulheres lidam com a construção e os conflitos dos relacionamentos amorosos na atualidade.
Os custos de entrada e saída nos relacionamentos amorosos
Nos relacionamentos amorosos, assim como nas brincadeiras infantis, podemos identificar os “custos de entrada” e “custos de saída”. O custo de entrada se refere ao investimento necessário para construir a relação, gerenciar as diferenças e formar vínculos. Na infância, essa experiência ocorre quando as crianças aprendem a negociar brincadeiras, lidar com emoções e gerenciar conflitos inerentes a qualquer interação humana. Esse investimento contribui não apenas para os aprendizados, mas também para o amadurecimento pessoal e a solidez da relação. Portanto, qualquer relação que passe por esse processo de maneira adequada, investindo na relação, terá, consequentemente, um custo de saída relativamente alto. Ou seja, nesse tipo de convívio, seja criança ou adulto, mesmo diante de frustrações, a relação não será rompida de maneira trivial, pois houve um investimento significativo que será considerado antes de decidir continuar ou sair da relação.
Assim, é importante destacar que isso não se aplica aos casos em que a pessoa percebe que a relação é ruim, tóxica, abusiva. Nesse contexto, apegar-se às boas experiências da relação para evitar o término é uma situação diferente. Aqui, chamo a atenção para o fato de quanto mais se investe na relação e se conhece a pessoa, terminar esse namoro ou casamento não será algo banal. Afinal, muitas pessoas não passaram pelos processos de “custo de entrada” nos relacionamentos. Isto é, entram em relacionamentos sem investir emocionalmente, o que torna mais fácil abandonar a relação diante das primeiras frustrações. Isso ocorre porque não houve um vínculo significativo estabelecido, tornando o custo de saída baixo, algo muito presente na geração ansiosa referida por Haidt.
Superando as dificuldades para manter um relacionamento
Além da relevância dessa experiência para o desenvolvimento humano, a lógica do “custo de entrada” e “custo de saída” pode nos auxiliar na compreensão da dificuldade que muitas pessoas têm para construir e manter relacionamentos amorosos. Isto porque quando a pessoa “paga” o custo de conhecer efetivamente a pessoa com quem está se relacionando ou intui se relacionar, ela apreende o máximo de informações, boas e ruins. Porém, o saldo costuma ser positivo, de modo que isso evita surpresas desagradáveis ao longo do relacionamento.
Em outras palavras, não são aqueles relacionamentos em que os pares fazem um rápido checklist a respeito daquilo que consideram essencial ao convívio. Na verdade, a ideia do custo de entrada versus o custo de saída é buscar um conhecimento aprofundado, construindo vínculos com a pessoa amada. Assim, diante das primeiras frustrações, essas pessoas não vão abandonar a relação por qualquer motivo banal, pois houve maiores investimentos, há compromisso estabelecido… ou seja, há custos significativos para deixar esse convívio.
O outro lado do custo de entrada e saída do relacionamento
Uma outra forma de entender os “custos de entrada” e “custos de saída” nos relacionamentos é reconhecer como é oneroso para algumas pessoas ingressar em um novo relacionamento devido a traumas e experiências ruins do passado. Algumas pessoas carregam consigo o medo de se abrir para uma nova possibilidade de relacionamento devido a traumas do passado, inseguranças e medo de se machucar novamente. Em razão disso, são resistentes em assumir um compromisso, sabotam o relacionamento e criam desculpas e conflitos para frear a evolução do namoro ou casamento. Também nesses casos, o custo de saída costuma ser baixo, pois, mesmo após anos de convivência, a relação talvez nunca tenha sido vivenciada plenamente. Ou seja, o vínculo entre o casal não tenha sido plenamente desenvolvido.
Entender esses processos pode ser essencial para melhorar os relacionamentos amorosos. Afinal, seja por impulsividade comum à geração ansiosa ou por traumas de experiências passadas, comprometer-se com o custo de entrada nas relações pode proporcionar um relacionamento amoroso construído à base de solidez, confiança, comunicação adequada e parceria. Pagar o devido preço para desenvolver adequadamente uma relação é a maneira de ter a vida amorosa construída em uma base mais sólida. Com isso, teremos menos relações desfeitas por razões aparentemente fúteis e triviais. O custo de saída significa desenvolver habilidades emocionais, aprender a dialogar e construir resiliência.
Geração ansiosa e a terapia de casal: melhorando os relacionamentos amorosos
Refletir sobre os “custos de entrada” e “custos de saída” de um relacionamento é fundamental para entender a dinâmica dos relacionamentos amorosos. Na terapia de casal, costumo trabalhar essas barreiras com meus pacientes, ajudando-os a criar uma base sólida para o desenvolvimento da relação. Desse modo, buscamos desenvolver habilidades para driblar as possíveis rupturas. Ou seja, ajustando o relacionamento para que este evolua com os devidos aprendizados e o fortalecimento dos vínculos.
O objetivo da terapia de casal é ajudar vocês a refletirem sobre os desafios do relacionamento amoroso. Por meio deste trabalho, podemos considerar os aspectos emocionais, subjetivos, práticos e racionais da relação a dois. Dessa forma, compreendemos melhor os principais obstáculos e os custos de entrada e saída do relacionamento. Isso nos dá mais clareza para tomar as melhores decisões em prol da boa evolução e sucesso da união amorosa. A terapia de casal pode ajudar os casais a enfrentar os conflitos e barreiras da vida a dois. Isso faz com que o relacionamento evolua de maneira mais saudável e equilibrada. Assim, as pessoas não abandonam o convívio como se isso não representasse nada.
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