No livro “O significado do aprender”, La Rosa (2003) afirma que a aprendizagem é um processo contínuo e dinâmico. Desse modo, qualquer situação, seja ela favorável ou não, pode gerar aprendizados. Em outras palavras, tudo aquilo que impacta o modo de agir de alguém, também altera sua maneira de viver. Por isso, é seguro dizer que as relações são fatores essenciais no processo de aprendizagem. Isto pois, por meio da interação com terceiros ocorre a construção dos significados que moldam os valores e condutas de cada pessoa, direcionando as ações para aquilo que representa o melhor resultado para determinado convívio. Desse modo, equivocadamente, muitas pessoas adotam regras do tipo: não falar o que pensa para evitar problemas. Tal lógica deve ser substituída pela assertividade.
Não falar o que pensa evita problemas?
Algumas pessoas, propositalmente, evitam expressar seus sentimentos e emoções. Para elas, falar o que pensa pode trazer problemas no relacionamento, especialmente com os cônjuges. Contudo, a construção desse pensamento não se dá ao acaso. Na maioria das situações, essa regra foi estabelecida em função de algum aprendizado decorrente de determinadas experiências mal sucedidas. Além disso, como visto acima, a interação com o meio e com terceiros influenciam na definição dos comportamentos. Portanto, consciente ou inconscientemente, qualquer um pode criar para si a seguinte regra: não me expressando e deixando de falar aquilo que penso, vou evitar problemas.
Mas por que muitas pessoas adotam essa postura? A resposta está no aprendizado colecionado ao longo da vida, bem como no histórico das relações com as demais pessoas. Frequentemente, falar aquilo que se pensa é motivo para julgamentos e críticas. Tudo isso leva à introspecção, pois entende-se que não falar determinados pensamentos é uma maneira de evitar confrontos. Não por acaso, em certas relações ou situações, evita-se ao máximo expressar aquilo que é pensado ou sentido. Tudo isso com objetivos nítidos: não ser criticado e não decepcionar. Ou seja, não falar o que pensa para evitar problemas.
Às vezes, tudo isso tem início desde muito cedo. Por exemplo, quando uma criança recusa uma sopa oferecida pela mãe e recebe um castigo. Provavelmente essa criança vai entender que é errado falar aquilo que pensa e sente. Consequentemente, levará esse aprendizado para sua vida, deixando de externalizar seus sentimentos nas mais variadas situações, no intuito de evitar mais punições.
A diferença entre evitar e resolver problemas
É comum entender que ao deixar de falar aquilo que se sente pode evitar um problema. Ou seja, tomar uma sopa, ainda que contra a vontade, evita um castigo. E não é difícil aprender isso. Porém, é um equívoco acreditar que “evitar” significa resolver efetivamente um problema. Os conflitos são resolvidos quando são enfrentados. Embora nem sempre haja repertório, ferramentas ou o contexto seja adequado para enfrentá-lo. Mesmo assim, é importante ter consciência de não usar paliativos para sempre. Dito de outra forma, é até compreensível que uma criança tente evitar um problema. Contudo, essa não deve ser a única postura de uma pessoa adulta.
Grande parte dos sujeitos sociais deixam de falar aquilo que pensam não só para evitar problemas. Alguns deles agem dessa maneira porque acreditam que são tímidos ou envergonhados. Enquanto outros têm medo de pagar um mico, bem como evitam decepcionar a expectativa do outro. Porém, tudo isso é, na verdade, sintoma de comportamentos inadequados. Ou seja, quando deixaram de se posicionar aprenderam – inadequadamente – que aquilo lhes trouxe o melhor resultado. Na verdade, esse pensamento equivocado está relacionado a uma análise imediatista. Isto é, nesse pensamento não são considerados os resultados a longo prazo, para si a para a relação. Na prática, o problema é postergado e a infelicidade assume a percepção da pessoa e da relação. Tudo isso faz com que ela evite cada vez mais situações semelhantes.
Comportamento assertivo pode ajudar
Deixar de falar o que pensa não resolve o problema. Ao contrário, isso só traz sofrimento, comportamentos inadequados, afastamento e prejuízos às relações. Aqueles que ainda deixam de falar o que pensam no intuito de evitar problemas, precisam mudar. Certamente necessitam, com urgência, desenvolver habilidades assertivas. Uma pessoa assertiva consegue falar o que pensa de forma segura e eficaz. E, o mais importante, consegue aprender formas mais promissoreas de se comportar e obter resultados. Por exemplo, a assertividade ajuda a mudar o ambiente propondo combinados no qual todos possam ter suas opiniões ouvidas, dialogadas e harmonizadas. Nesse sentido, como disse La Rosa 2003: a aprendizagem faz com que o sujeito se modifique, de acordo com a sua experiência. Experimente você também. Seja assertivo!
LA ROSA, J. Psicologia e educação: o significado do aprender. Porto Alegre: EDiPUCR, 2003.